Que o técnico Felipão queira jogar sobre o lombo das arbitragens a responsabilidade de duas derrotas seguidas, nada a opor. Faz parte do show do futebol. Os culpados são sempre os outros.
Agora, eu não vou entrar nessa. E está aqui alguém que viu nos sonoros 4 a 1 do Gre-Nal um divisor de águas. Um novo Grêmio surgia para retomar o caminho das vitórias e dos grandes títulos. Eu acreditei muito nisso. Eu que sempre fui pessimista, deixei-me iludir com uma facilidade que neste momento me repugna.
Eu acreditei!
É inegável que o Grêmio foi prejudicado pela arbitragem. Mas também é inegável que já foi beneficiado outras vezes, menos vezes, claro. Só pra ficar no campeão brasileiro por antecipação nesse campeonato em que o campeão se conhece com antecedência quando dispara na frente, desde que não seja treinado por Celso Roth, lembro o jogo do primeiro turno, quando o Grêmio também foi vítima de arbitragem, digamos, incompetente.
Voltemos ao presente, ao jogo em que o Grêmio foi batido pelo Corinthians por 1 a 0: Fábio Santos ergueu o braço no cruzamento de Ramiro. A bola bateu no braço. O bandeirinha viu e assinalou. Foi instintivo. Ele ergueu ‘seu instrumento’, como diziam alguns narradores, e marcou a infração. O juiz correu em sua direção. Conversaram rapidamente. No meio do caminho, Fábio Santos garantiu aos dois que não havia tocado com a mão na bola. Ah, bom, diante de um depoimento tão ‘neutro’ e de tanta ‘credibilidade’ não tem como marcar infração, não é mesmo?
Entre dar um pênalti contra o Corinthians num lance desse tipo, sempre muito polêmico, e marcar lateral, o juiz fez o melhor para a sua carreira. Livrou sua pele, ferrou o Grêmio.
Mas aí é que está. O Grêmio já estava ferrado. Jogava um futebol pobre. Seu trio ofensivo foi inofensivo. O goleiro Cássio, que é o melhor em atividade no Brasil, seguido de Grohe, quase não foi importunado. Dudu e Luan não conseguiram armar jogadas. Barcos, coitado, sequer teve chance de desperdiçar alguma oportunidade incrível como a que teve contra o Cruzeiro dias antes na Arena.
Aliás, quando não vale, Barcos marca gols decisivos. Ontem, ele fez um ao pegar rebote do Cássio num chute de Giuliano – foi a única defesa de Cássio no jogo. O problema é que ele saía de posição de impedimento. Mas o que importa é que ele fez o gol, numa situação muito, mas muito mais difícil daquela contra o Cruzeiro e que todos os gremistas não conseguem esquecer. Tenho um amigo que sofreu pesadelo com esse lance na Arena.
Se perder para o Cruzeiro foi um crime, porque o Grêmio merecia no mínimo um empate, a derrota para o Corinthians foi até justa, descontando o pênalti não marcado. O Grêmio, a rigor, não jogou nada. E quem não joga nada merece perder, embora algumas vezes acabe até vencendo. Ainda mais se contar com uma mãozinha dos homens de preto.
Foi o caso do Inter, sábado. O adversário era o time reserva do Atlético Mineiro. Imaginem Grêmio ou Inter jogando com reservas contra um time forte como esse mineiro. Aconteceu no inverso no Beira-Rio. Pois o Inter penou para vencer os reservas do Atlético. Fez um gol mágico nos últimos segundos da prorrogação, e justo por um jogador duramente criticado por 99% dos colorados, o Fabrício. Gol mata-secador.
Antes disso, o lateral Gilberto havia confundido futebol com vôlei. Ergueu os dois braços como quem faz um bloqueio na rede para defender um chute do adversário. Dentro da área. O juiz Péricles Cortez chegou a levar o apito à boca, mas em vez de apitar optou por engolir o instrumento, ou algo parecido. O fato é que ele, tão perto do lance, deixou a jogada seguir como se nada tivesse ocorrido.
Bom para o Inter, que, a bem da verdade, mesmo com altos e baixos, faz tempo se mantém no grupo de cima da competição e agora se encaminha para disputar a Libertadores de 2015, prêmio consolação que tem servido para a dupla Gre-Nal mascarar sua incompetência para conseguir isso que o Cruzeiro faz com espantosa naturalidade: ser campeão do brasileirão por pontos corridos.