Depois de 30 minutos de futebol sofrível e irritante, o Grêmio mostrou alguns progressos coletivos e também algumas qualidades individuais.
Até o gol olímpico de Douglas, que abusava de errar passes, e passes fáceis, o time colocado em campo por Felipão era de uma aridez de assustar camelo.
Sobrava transpiração, faltava inspiração. O time dominava o jogo, o Caxias se defendia.
O gol, que fez Felipão soltar um ‘só assim mesmo’, ou algo parecido, deu mais tranquilidade ao Grêmio.
É visível que cada jogador entra tenso, preocupado em agradar, em não errar. Vale principalmente para os novatos, mas até os mais veteranos sentem. Douglas, por exemplo, por trás de uma aparente indiferença para o que possam dizer dele, saiu para o intervalo com o rosto fechado. Deu entrevistas de maneira tensa, sem esboçar um sorriso, o que seria de se esperar de um jogador que havia feito o gol.
Então, quem desprezar esses aspectos psicológicos na análise do time está cometendo um equívoco.
Vejamos o caso de Mamute, para mim emblemático. Jogador de brilho em categorias de base da seleção, nunca havia conseguido agradar no time de cima do Grêmio. Neste sábado, sem fazer uma partida excepcional, ele mostrou virtudes que o credenciam a disputar vaga de titular.
Eu vi dois Mamutes em campo. O de antes de gol, e o Mamute pós gol. Depois do gol, no minuto seguinte, Mamute estava relaxado, livre, solto, tocando a bola no lado de campo com serenidade e até alegria. Parecia aliviado com o gol. Desconfio que essa postura mais leve possa ter irritado o lateral do Caxias, que entrou de forma criminosa nas costas de Mamute, e foi expulso.
E o gol? O que foi aquele gol, o terceiro? Uma metida de bola especial, milimétrica de Douglas -sim, de Douglas, grande destaque individual do time nesse jogo- para a arrancada de Mamute, que chegou à frente do zagueiro, suportou o encontrão por trás, invadiu a área e teve frieza e qualidade técnica para encontrar o canto direito do goleiro.
Arranque, velocidade, força, técnica e a frieza do matador. Esse é o Mamute do terceiro gol do Grêmio.
Antes aconteceu o gol de Marcelo Oliveira. Sobre esse jogador que chegou aqui descreditado, tenho a dizer que se trata de um grande reforço. Respeito opiniões contrárias, mas eu gosto desse jogador, mas como volante.
O segundo gol saiu de uma arrancada dele, coisa que ele costuma fazer, o passe para Everaldo, que entrou na área, chutou, o goleiro defendeu e Marcelo, que acompanhou a jogada até o final, concluiu para a rede. Incluo Marcelo Oliveira como mais um titular, ao lado de Marcelo Grohe – que cometeu dois erros incríveis, talvez efeito da convocação – Rodolpho e Geromel ou Erazo. O resto está em aberto.
Na lateral esquerda, Felipão desafiou os astros ao deixar Júnior na reserva, escalando Marcelo Hermes. Pois esse Hermes está mostrando qualidades. Felipão faz bem em observar e dar chances a esses jovens. Ele já viu que pode contar com Júnior. Agora ele sabe que Hermes tem nível semelhante, com a vantagem de jogar mais rente à linha lateral, abrindo o jogo.
Felipãoquer seu time jogando pelos flancos contra essas retrancas que recheiam o miolo de marcadores, como fez o Caxias. Um lateral que entra em diagonal não é o mais adequado.
Coletivamente, destaco algumas evoluções, como as triangulações, o um-dois, as aproximações.
Vejo o Grêmio melhorando, evoluindo como equipe.
Vejo méritos de Felipão, o mesmo Felipão que critiquei desde antes da Copa do Mundo, prevendo o fracasso da seleção brasileira.