A arte de valorizar jogador com factóides

Dia desses, zapeando de canal em canal, deparo com o Falcão dando entrevista para uma dessas emissoras alternativas. Peguei a conversa no final. Ele concluía dizendo que a imprensa mudou muito, que, ao contrário de outros tempos, não segue a regrinha básica de ouvir as partes envolvidas antes de publicar alguma coisa.

Pronto, Falcão dando um puxão de orelhas em seus ex-colegas (ele trabalhou na Gaúcha um tempo). Na hora fiquei meio chateado. Afinal, Falcão não seria a pessoa mais habilitada a falar sobre jornalismo, mesmo sendo casado com a Cristina Ranzolin e ter transitado pela profissão.

Mas acabei admitindo que ele tem boa dose de razão.

Vejam essa caso do Rodrigo Dourado. Ele tem uns 20 jogos pelo Inter, surgiu para o mundo futebolístico agora. Já estaria despertando interesse de clubes europeus. E não é qualquer porquera, não, é clube grande, poderoso.

Até aí tudo bem. Pode ser coisa de empresário, um planta notícia aqui, outra ali. Daqui a pouco a especulação oriunda de Porto Alegre pode virar notícia vinda da Europa. Já era assim antes da internet, imagine agora. Eu chamava de efeito bumerangue.

O empresário chega para o repórter – normalmente louco por um grande furo – e diz que tem uma notícia quente, uma bomba, mas que não é pra ele publicar. O repórter, claro, diz que é um túmulo. O empresário sabe que será só virar as costas que a ‘notícia’, o furo de reportagem, estará circulando.

O repórter, eventualmente, pode ainda manter contato com um veículo de comunicação do outro país. Vai dizer que tem a informação de que Rodrigo Dourado, por exemplo, está nos planos do Manchester  United, nome que o empresário lhe passou. O jornalista além mar diz que não sabe de nada, óbvio. Final do contato, por email, face, telefone, sei lá, o repórter inglês no caso colhe informações sobre Dourado e, mesmo que o Manchester não confirme interesse específico e concreto, lança a informação. A notícia, plantada muitas vezes na mesa de um bar na Cidade Baixa, acaba voltando como se a fonte original fosse europeia. E isso, amigos, atiça as equipes de reportagem.

Afinal, se veio de um jornal inglês, italiano ou alemão, deve ser verdade. Os mais experientes sabem que não é bem assim, mas deslizam na onda, muitas vezes porque é apenas algo novo e até porque a especulação pode virar fato.

Mas falta um número nessa brincadeira. Quanto o clube europeu está disposto a pagar? Alguém chuta: 100 milhões de reais. No caso de Dourado é um absurdo. Mesmo sendo jogador do Inter, que normalmente lança números estratosféricos em suas negociações.

Nos velhos tempos jogador brasileiro só valia mais do que 10 milhões de dólares se tivesse vestido a amarelinha, o que não cabe a Dourado, ao menos por enquanto.

Geferson, por exemplo, pelos critérios anteriores, valeria mais que Dourado, porque já vestiu a camisa da Seleção, mesmo que isso cause o maior espanto.

No meu tempo de jornal eu chamava esse processo todo de efeito bumerangue. Admito, já fiz disso, e o interessante que não raro as partes gostam de ideia e o negócio acaba saindo.

Esse tipo de notícia sacode o ambiente esportivo, rende milhões de opiniões e debates nas redes sociais e veículos tradicionais.

ATENÇÃO

Ficarei uns dias fora do ar. Estarei escondido num sítio do Oeste catarinense. ‘Lá onde não mora ninguém’, como canta o Agepê, e a internet é movida a manivela.

De lá, conforme os acontecimentos, cruzo a fronteira e vou pedir asilo na Argentina, que é ali do lado. Ou embarco direto para o Congo, onde acredito que já encontrarei o RW encharcado de garrafas de Bardal.

Não verei o jogo de domingo na Arena. Duvido que a TV de lá passe o jogo do Grêmio, embora a região seja quase toda de gremistas.

Espero a análise de algum botequeiro para compensar esse vácuo na programação.

Pode mandar o texto para o meu email: ilgowink@gmail.com

Rendeu até esse post.