Grêmio: por 90 minutos um time de craques no Mineirão

Quando há tanta dificuldade para escolher o melhor em campo, como é o caso desta vitória fantástica sobre o então líder do campeonato e time quase imbatível no Mineirão, só resta uma saída: o melhor é o técnico do time vitorioso.

Roger Machado é o grande responsável por essa atuação brilhante do Grêmio, a melhor que vi do tricolor nos últimos tempos. Roger armou o time de uma maneira que transformou todos os jogadores em craques por 90 minutos.

A grandeza do adversário valoriza ainda mais esse trabalho coletivo.

Começando pelo goleiro. Marcelo Grohe foi o salvador nos raros momentos em que a defesa foi superada pelo envolvente ataque atleticano, principalmente no segundo tempo.

Gallardo, Geromel, Erazo e Marcelo Oliveira foram soberbos. Em especial os dois zagueiros. Soberbos!

E a dupla de volantes? Simplesmente sensacional. Jogaram por música. Quase podia ouvir um violino ao fundo a cada roubada de bola.

Depois, a linha ofensiva. Douglas recuou mais e foram de seu pé esquerdo mágico que saíram os lançamentos que originaram os dois gols.

O primeiro gol foi uma pintura, vinheta de programa esportivo. A bola foi roubada por Geronel na linha de fundo, passou por toques precisos e rápidos, chegou até Douglas no círculo central. Ele lançou Giuliano, que recebeu na corrida, enveredou para o meio atraindo a marcação e tocou com genialidade para Douglas, que mandou um chute forte e rasteiro para fazer o gol da jogada mais bonita do ano. Douglas fez o lançamento e correu para marcar o gol, como se um guri fosse.

No segundo gol, Douglas viu Giuliano solto pela esquerda. Giuliano avançou em velocidade e quando chegou em condições de chutar, optou por encostar uma bola carinhosa e mansa nos pés de Luan: 2 a 0. O Mineirão, por instantes, mas só por instantes, calou. Foi um silêncio de surpresa e de reverência, de respeito a um grande adversário. 

Luan foi mais discreto, mas também em nível elevado no jogo. Pedro Rocha foi útil puxando alguns contra-ataques e perturbando a marcação.

Por fim, aquele que em campo em considerei um pouco acima dos demais: Giuliano.

O que ele fez nos lances de gol foi coisa de craque. Sobrou inteligência, visão de jogo e técnica apurada.

Já não sei mais até onde pode ir esse Grêmio. Até o jogo desta noite no Mineirão eu acreditava que o título seria impossível.

Ainda acho muito, muito difícil, mas já não vejo como impossível.

 

A ÉTICA DE CONVENIÊNCIA

Os defensores da ética nas negociações no mundo da bola devem estar indignados com o Inter. Deixou o Figueirense, que luta para não afundar os pés na lama da zona do rebaixamento, sem pai nem mãe. Ou pelo menos sem treinador.

A direção colorada, que sai do 80 para o 8 rapidamente – deixou vazar que pretendia um top, Sampaoli, e acabou ficando com um emergente que não entusiasma sua torcida – manteve contato com o treinador Argel e não deu a mínima para o clube catarinense. Faltou ética e sobrou cara-de-pau.

A mesma ética que o Inter e setores da imprensa exigiram de clubes que negociaram diretamente com o chileno Aranguiz faltou no caso Argel. Sem falar o caso Doriva/Vasco.

O presidente do Figueira manifestou sua indignação durante entrevista coletiva de Argel no final desta quinta-feira. Reclamou – sem muita ênfase, é verdade, quase pedindo desculpas – que o Inter não teve a gentileza de ao menos informar interesse no profissional.

É claro que Argel sairia do Figueira de qualquer jeito, assim como Aranguiz conseguiu o que queria.

Aguardo agora críticas da imprensa ao comportamento do Inter nesse caso. Depois, espero que parem com essa indecência de cobrar ética de todos que de uma forma ou de outra prejudicam o Inter, sem exigir o mesmo quando acontece o contrário. Como é o caso Argel. É a ética da conveniência, muito comum neste país.

Justiça seja feita: Maurício Saraiva, na rádio Gaúcha, criticou a direção colorada logo que ouviu a entrevista do dirigente do Figueira.

Sobre a decisão de Argel de trocar o Figueira pelo Inter. Fez muito bem. Argel sabe que o Figueirense o demitirá sem dó nem piedade caso o time comece a desandar mais no Brasileirão, o que não é difícil de acontecer.

Aconteceu isso com Doriva, que recusou proposta do Grêmio e semanas depois estava no olho da rua, o que, aliás, eu  previ na ocasião. Ninguém dura nesse time do Vasco. Assim como não tem anjo no futebol, nem dentro nem fora de campo.