O técnico da casa e a influência dos velhos amigos

O problema de ser um técnico da casa é o número de pessoas que se acha no direito de telefonar a todo instante pra sugerir escalações, esquemas de jogo e dar dicas sobre isso ou aquilo.

Foi o caso de Felipão recentemente, em seu retorno ao Grêmio. Não tenho dados objetivos, mas imagino que os canais auditivos de Felipão ficaram congestionados durante o curto período de sua passagem. E não duvido que isso até traga algum benefício, mas estou convencido que atrapalha mais que ajuda.

Na China, sem ninguém de fora pra palpitar, Felipão está feliz, ele e seu fiel escudeiro, o Murtosa. Sem ninguém pra incomodar, eles foram campeões. Mas não duvido também que alguém aqui da aldeia não mantenha contato seguidamente para sugerir alguma contratação.

São pessoas que se acham no direito de se meter na vida dos outros. É como aquele cunhado indigesto e inconveniente que quase todos nós temos.

Depois de Felipão, temos agora o Roger.

 

Só imagino o que deve ter de gente buzinando em seu ouvido desde que ele foi contratado para o desafio de sua vida pós-jogador.

Quando pensou por sua própria cabeça, Roger armou um time competitivo a partir de uma base deteriorada emocionalmente e sem grandes individualidades realmente afirmadas e inquestionáveis.

O time de Roger cresceu, mas a falta de perícia nas conclusões acabou assanhando uns e outros. Foi aí que os ‘amigos do prata da casa’ começaram a fazer valer os seus direitos de velhos conhecidos dos tempos do Olímpico.

A todo instante tinha alguém para sugerir ou cobrar a presença de um centroavante, um sujeito alto e espadaúdo para resolver o problema da falta de gols, e dos gols perdidos porque o time não tinha um camisa 9 de carteirinha.

Confesso que eu mesmo cobrei uma solução para essa deficiência do time, sugerindo principalmente mais treinamentos de chute a gol.

Nunca, porém, defendi mudança de esquema com a entrada de um centroavante ‘aipim’. Gosto de um time com muita mobilidade, com os jogadores se deslocando, atacante e defendendo, desmanchando os losangos, os triângulos e os quadrados. Claro, tudo dentro de uma lógica, de uma organização e de uma orientação superior, a vinda do treinador, de preferência sem interferência dos velhos amigos.

Aí, de tanta insistência veio o Bobô. Uma boa opção para o segundo tempo, nada além disso. Poderia ser pior, porque havia a ameaça de Leandrão ser contratado como solução para o ataque gremista. 

O problema é que Bobô, talvez por interferência externa, acabou titular. Fosse um Ricardo Oliveira valeria a pena mudar o esquema. Roger embarcou nessa canoa furada e o Grêmio afundou no segundo turno do Brasileirão.

O velho esquema está sendo retomado.

Desconfio que o técnico Dunga andou padecendo do mesmo mal. Deixou Douglas Costa, grande destaque do futebol europeu no momento, no banco de um aipim, um aipim tido exportação, mas um aipim. Se deu mal.

Dunga recuou rapidamente e já no jogo seguinte, em Salvador, iniciou com o eterno gremista Douglas Costa.

Foi o nome do jogo. Salvou Dunga da degola.  

Fim do aipim no Grêmio e pelo jeito também na seleção, pelo menos desde o início.

AIPIM ARGENTINO

Por falar em aipim, tiro o meu chapéu para o Barcos. É um grande marqueteiro. Seu nome aparece no noticiário da mídia gaúcha quase todos os dias.

O que me parece uma campanha para colocá-lo de volta no Grêmio.

Só que me faltava, um aipim argentino.