O tempo do torcedor não é o tempo do dirigente.
O primeiro contrata a rodo, indica nomes e cobra explicações por que tal jogador não está nos planos.
O tempo do torcedor está mais para o tempo do jornalista, também ele louco por contratações quase que imediatas, e que se incomoda quando os reforços não chegam na velocidade (por eles e pelos torcedores) esperada. E se irrita quando os reforços que chegam são modestos, quase inexpressivos como os dois volantes contratados pelo Inter, por exemplo.
Já o dirigente trabalha no seu tempo, no seu ritmo. Porque ele não pode errar. Muitas vezes o dinheiro é curto, os preços disparam e aparecem concorrentes.
É claro que em alguns casos o dirigente avalia mal e contrata pior ainda. Por isso, é preciso cautela, estudo minucioso, avaliação criteriosa.
Defendo que as contratações devam passar pelo crivo de mais pessoas, nunca ficar apenas nas mãos de um ou dois dirigentes.
Outra coisa, a contratação não pode ser por impulso.
O problema é que às vezes o dirigente se vê pressionado, ainda mais agora com as redes sociais bombando.
Os fatos começam a atropelar. É o caso do sorteio dos grupos da Libertadores. Tivesse o Grêmio caído num grupo mais fácil, aparentemente mais fácil, o ritmo das buscas poderia ser o atual, este que irrita boa parte dos impacientes torcedores.
A mensagem deles é mais ou menos a seguinte:
Com esse time o Grêmio será um mero coadjuvante na Libertadores.
Assino embaixo. O Grêmio atual, mesmo considerando que Geromel e Maicon sejam mantidos, talvez não supere a primeira fase.
A partir do momento em que o Grêmio caiu no chamado ‘grupo da morte’ a direção fica na obrigação de acelerar o passo.
O time da Libertadores deve ser já o time do primeiro jogo (contra o Toluca, no México).
Se havia o pensamento de definir o time com a competição em andamento, este deve ser alterado.
O tempo do dirigente começa a ficar muito parecido com o tempo do torcedor.
E aí, no açodamento, as chances de erro aumentam. É só dar uma olhadinha no retrovisor para ver que a pressa nunca foi boa conselheira.
É preciso agora o equilíbrio, a sensatez que não parece faltar ao presidente Romildo Bolzan: existe necessidade de agilizar as contratações, mas a margem de erro continua sendo zero.
Enfim, o tempo está passando, e agora cada vez mais rápido.
Depois de 15 anos de seca, a ausência de contratações empolgantes torna-se insuportável ao torcedor, que derrama sua angústia, inquietação e revolta nas redes sociais.
Cabe à direção administrar esse momento com sabedoria, nem tão devagar que pareça provocação, nem tão rápido que parece tibieza.
FRED
Até para contratar um jogador sem maior expressão como Fred é difícil. Lembro que durante o Gauchão sugeri Fred, então no Novo Hamburgo. Pensei nele para o grupo, talvez até para titular se mostrasse mais jogo.
Pois é, ele estava aí do lado. Ninguém do Grêmio viu.
Penso que o dirigente de futebol remunerado deva ser um sujeito atento, ligado nos valores locais, não apenas em nomes duvidosos de fala espanhola e de preço incompatível com a sua história no futebol.
ARGENTINOS
Alguém se deu o trabalho de fazer um balanço do número de argentinos contratados pelo futebol gaúcho nos últimos cinco anos, e quantos realmente foram aprovados?
Assim, sem me aprofundar, constato que foi fracasso sobre fracasso.
E muito dinheiro jogado fora. Sem falar no tempo perdido, prejudicando o time e a ascensão da gurizada da base.
Repito meu mantra: argentino jovem e realmente bom vai para a Europa, ou agora para a China.
PONTO FORA
Defendo que o Grêmio não pode jogar fora de casa com o pensamento em garantir um ponto.
O objetivo deve ser sempre armar o time de forma ambiciosa, mas com os devidos cuidados.
É preciso incutir nos jogadores que a meta é sempre vencer. Implantar a cultura da vitória. Cabe aos dirigentes colaborar nesse sentido. A insistência em falar que ‘vamos em busca de um ponto’ diminui o entusiasmo da torcida e pode ter reflexos negativos no desempenho do time.