Quem conhece o técnico Renato Portaluppi sabe que ele é uma extensão do Renato jogador. Irreverente, exagerado e atrevido.
No ambiente conservador do futebol – clube, imprensa e torcida – não é exatamente o comportamento que se espera de um profissional.
Alguém assim só sobrevive se for muito bom, bom o suficiente para dizer o que lhe dá na cabeça e colocar faixa no peito. Saiu um pouco da linha parece que o mundo desaba.
Renato sempre foi assim. Eu era setorista do Grêmio quando ele chegou ao Olímpico como grande reforço para o time de juniores.
Assisti a alguns jogos dele nas preliminars. Era fominha e valente. Não temia cara-feia. Os pontapés não o intimidavam, pelo contrário. Alguns companheiros reclamavam quando ele prendia demais a bola. E depois corriam para abraçá-lo quando ele driblava e cruzava para o gol.
Teve um momento em que implicavam com as meias arriadas. Enfim, tudo em Renato era motivo para polêmica.
O importante é que ele resolve dentro de campo, comentou certa vez um treinador.
Então, Renato é assim e sempre será: irreverente, exagerado e atrevido.
Quando ele declara que não precisa estudar para vencer como técnico, Renato está apenas sendo ele mesmo.
Ele poderia ter ficado calado mas aí não seria Renato; assim como não seria Renato se não ousasse nos dois gols contra o Hamburgo, em 1983.
Assim como questiono a necessidade desse tipo de afirmação, que soa provocativa, não tenho nenhuma dúvida de que Renato pensa isso mesmo: ele já sabe futebol o suficiente e não será um um curso ou estágio no exterior que irá somar algo ao que ele já sabe.
Não tenho dúvida de que Renato estuda, mas ao seu jeito. Estuda observando os jogos, tirando uma lição aqui e outra ali.
A provocação é direcionada aos que chegam carregando livros debaixo dos braços e apresentando ‘diplomas’ de treinador.
Detesto a expressão ‘treinador estudioso”, pior que essa só a do ‘treinador trabalhador’.
Futebol se aprende no campo, na prática, na observação, na capacidade de cada um de assimilar e transmitir conceitos e ideias.
Nesse aspecto, poucos tiveram ‘mestres’ como Renato teve em sua trajetória vitoriosa como jogador de futebol.
Vou citar dois: Telê Santana e Ênio Andrade. Dois dos maiores treinadores que já tivemos.
Garanto que nenhum deles precisou de estágios ou se socorreu de livros. E ambos foram multicampeões.
Convivi bastante com ‘seu’ Ênio o suficiente para afirmar que ele concordaria com Renato.
Mas, discreto e humilde, ficaria de boca fechada.
Talvez seja o que falte a Renato: discrição e humildade.
Principalmente, falar menos para não provocar os ‘adversários’, que estão sempre de plantão para hiperdimensionar tudo o que ele disser, como fez o colunista Diogo Olivier em ZH.
Mas aí não seria o Renato…