O futebol é apaixonante também porque desmorona teses. Antes do jogo no Maracanã, li/ouvi muitas críticas ao Renato por escalar quatro volantes – e não importa que sejam jogadores que marcam, destroem, armam e até aparecem na frente para fazer gol.
Ooooh! Quatro volantes, meu Deus! No passado não muito distante, alguém diria que é o esquema chama-derrota. Ignoram, por desconhecimento ou apenas vontade de mostrar o quanto são ásperos e duros em suas avaliações e críticas, que o que importa é a mobilidade, o entrosamento, a fluidez do jogo.
Com três ou quatro volantes, não importa. Tudo depende da qualidade, da sincronia de movimentos, e de uma orientação firme e inteligente do treinador, no caso o treinador que anda colocando abaixo, a cada jogo, algumas teses forjadas por mentes confusas e incrédulas.
Gente que ainda acha que Renato é apenas um motivador, um profissional com estrela, com sorte – aliás, um pouco de sorte sempre ajuda, ainda mais se a pessoa for competente naquilo que faz.
Antes do jogo, cansei de ler/ouvir muita gente boa dizer que Renato só armava esse esquema para ajeitar o Maicon. E que se tiver que sair alguém nunca será Maicon, considerado ‘bruxo’, no sentido mais pejorativo possível, do treinador. Arthur será o sacrificado, previam, para Maicon seguir na equipe. Pode ser, mas nesse jogo contra o Fluminense quem saiu foi Maicon e Arthur (ooh, outra surpresa) ficou até o fim.
Outra tese que está desabando: Fernandinho não joga nada. Ora, Fernandinho teve alguns lampejos excelentes em sua carreira, e é por isso que custa caro. Nesta temporada, em especial nos dois últimos jogos, Fernandinho entrou muito bem. Então, também no futebol as pessoas não são totalmente competente ou incompetentes, boas ou más.
O fato é que Fernandinho cresceu, e nem vou me fixar em Ramiro. O PGV está demais. É um jogador impressionante. No esquema do Renato ele é muito mais que um volante, é um meia, um atacante, um lateral-direito e, facilita, até zagueiro, é múltiplo. Ramiro faz a diferença como atleta participativo e aguerrido, enquanto Luan brilha, ilumina e decide.
O que dizer da zaga? Uma muralha. Talvez a melhor dupla de área que vi no Grêmio desde os anos 70.
Os laterais também estiveram acima da média. Cortez provou, ao menos para mim, que merece continuar titular. Edilson, além do golaço, fechou o lado direito da defesa com tranca de ferro. Aliás, pelos dois lados, o Fluminense não encontrou muitas brechas, e apelou para a bola aérea, facilitando a vida de Grohe, sempre muito atento com seus chamados ”braços de motorista de kombi ou de jacaré’, uma maldade sem tamanho para um goleiro de tanta qualidade.
Enfim, o Grêmio tem algumas dificuldades. Mas os outros times têm mais, alguns muito mais.
E é desse jeito que o Grêmio se consolida como forte candidato ao título: atropelando teses e previsões negativas e pessimistas (eu também tenho meus momentos de pessimismo, mas ao contrário de muita gente respeito e reconheço a qualidade do trabalho que está sendo feito.
Um dia esse pessoal descrente vai acertar, o Grêmio vai perder, e aí eles encherão a boca para gritar: viram, eu não disse?
Mas, no final de tudo, somos todos gremistas. E o que importa agora é comemorar mais uma vitória fora de casa. Bateu o Fluminense por 2 a 0 no Maracanã não é pra qualquer time.