O técnico Ênio Andrade era bom de prosa. Terminado o trabalho, ele atendia os setoristas com paciência, girando o cordão com um apito que costumava usar nos treinos técnicos e táticos.
Ficávamos ali, à beira do gramado, enquanto o sol se escondia por trás da estrutura social do velho Olímpico.
‘Seu’ Ênio era um treinador discreto, simples, que não buscava glamourizar a profissão como fazem muitos, em especial os que nunca ganham nada. Claro, há exceções.
Pois o velho Ênio costumava dizer sobre os jogadores, em especial goleiros e centroavantes: “Quem tem três tem dois, quem tem dois tem um, quem tem apenas um, não tem nada”.
Era mais ou menos assim que ele falava, referindo-se a ter sempre boas opções para cada posição para não correr o risco de na hora decisiva ficar pendurado no pincel.
Lembrei-me dessa frase ao avaliar a situação do Grêmio. Até uns dias atrás o Grêmio tinha três competições. Ficou com duas.
Perdeu uma que era considerada prioritária naquele momento, em comparação com o Brasileiro, a Copa do Brasil, teoricamente mais fácil para alcançar um título.
Restaram duas competições. A que foi desprezada em alguns jogos – o que está custando caro hoje -, e a prioridade das prioridades: a Libertadores.
Quem tem dois, tem um. Quem tem um, está mais próximo de ficar sem nada.
Espero que o exemplo da Copa do Brasil sirva para guiar a direção gremista por um outro caminho, o caminho de faixa dupla, seguindo assim, com o Brasileirão e a Libertadores correndo paralelamente até chegar a um ponto em que talvez isso não seja mais possível.
Mas até lá, que o Grêmio enfrente o Vasco neste sábado com o que tiver de melhor à disposição, segundo avaliação de seus profissionais.
Lembrando sempre que dependendo dos resultados desta rodada o Grêmio poderá terminar com apenas uma competição que leve ao título.
E aí, como dizia o velho Ênio, quem tem um…