O que tem em comum o mestre Telê Santana e o atual melhor treinador em atividade no futebol brasileiro?
A pergunta por si só é provocativa, vai atiçar os lobos que apenas toleram Renato Portaluppi , aqueles que não reconhecem nele um técnico com ideias modernas, arejadas, e que estão sempre na tocaia.
Um técnico que é mais que um técnico, é um gestor de vestiário, como ele mesmo se intitulou em entrevista publicada em Zero Hora deste final de semana.
A pergunta, assim de sopetão e tão fora de contexto nesta manhã chuvosa de sábado – sempre que acontece chuvarada assim não consigo deixar de pensar no pessoal alojado no acampamento farroupilha – leva a uma resposta rápida:
– Nada, ué. Não tem o que comparar.
Pois eu acho que tem. Lendo um texto que cometi no dia 21 de abril de 2006, no meu primeiro blog – eu escrevia para mim mesmo, era como um palhaço sozinho no picadeiro, sem plateia -, deparei com uma frase do mestre, morto naquela data depois de uma longa agonia.
Eis a frase, que poucos treinadores podem repetir hoje, sem corar, conforme registrei:
– Se for para mandar meu time matar a jogada, dar pontapé no adversário ou ganhar com gol roubado, prefiro perder o jogo.
Não sei se Renato prefere perder o jogo a ganhar com gol ‘roubado’, mas que o time dele também não dá pontapé, isso é inegável.
O Grêmio de Renato lembra aquele Grêmio de Telê, de 1977, campeão gaúcho. Título que me proporcionou imensa alegria, porque quebrou a hegemonia vermelha no RS.
Era um Grêmio que jogava bola, de raras intervenções faltosas.
Igual ao Grêmio de Renato.
Para completar, repriso o restante daquele artigo, de onze anos atrás:
“Mais que um grande treinador de futebol, Telê foi um exemplo de ética num meio em que cada vez mais prevalece a força do dinheiro e, com isso, tudo o que vem a reboque. Não é preciso entrar em detalhes.
Só conheci um técnico equivalente a Telê, ao menos nesse aspecto da seriedade, da honestidade. O Ênio Andrade. Dele, guardo uma frase: “Eu vivo do futebol, não no futebol”. Havia coisas nesse meio que o incomodavam, por isso a frase.
O corpo de Telê será sepultado neste sábado. A sua morte, porém, se deu há mais tempo, quase dez anos. Quando teve o AVC que o afastou do futebol, sua maior paixão. “O futebol é minha vida, não consigo me afastar dele”, disse, certa vez.
Telê se vai deixando a sua marca, muitas vitórias e alguns revezes. Acima de tudo uma lição de honestidade e moralidade. Telê se vai com as mãos limpas.
Mãos que nem de longe lembram as erguidas pelo presidente Lula, hoje, numa bacia de petróleo. O Grande Guru mergulhou as palmas das mãos no óleo e as ergueu para fotos, imitando gesto de Getúlio Vargas, em 1952.
Cheguei a pensar, por um momento, que eram mãos encharcadas de lama.”