Desde os meus velhos tempos da reuniões dançantes, em Lajeado, onde vivi minha adolescência espinhenta, é que sou assim: busco sempre o melhor. No caso, a melhor.
É claro que nunca consegui a mais bonita da festa. Mas eu era insistente: outra reunião, nova frustração. No máximo eu conseguia uma menina da zona da sul-americana, não mais que isso.
É preciso explicar aos que não tiveram a felicidade de curtir esses momentos bailantes que as reuniões dançantes – a maioria delas – era um evento simples, som de baixa qualidade, tudo vinil do Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, The Fever, etc.
Conseguir um beijo na boca era coisa para comemorar, fechar a Goethe. Melhor ainda era contar – sempre exagerando – aos amigos, principalmente aos que saiam no zero a zero da festa. Empate fora de casa é vitória, a gente se conformava.
Entre uma Grapette (esclarecendo: bebida sem álcool à base de uva) e outra, rolava um beijinho de leve na orelha, no rosto, no canto dos lábios, mãos inquietas em trabalho de reconhecimento do território oposto.
Tudo muito discreto. Nos encontros seguintes – normalmente não aconteciam porque aí já envolvia um certo compromisso, namoro no portão, no sofá, essas coisas da pré-história. Mas era divertido.
Na época confesso que sofri por causa de alguns casos de “amor da minha vida”, um caso em especial foi marcante: meu amor platônico pela Stela, uma alemoazinha linda que, na verdade, nunca deu me bola.
Era minha vizinha. Cuidava pra ver quando ela chegava ou saía. Stela não caminhava. Acreditem, ela flutuava, deslizava, desfilava… E cantava. Tinha uma voz linda, que eu ouvia à distância.
Então, nesse aspecto Stela era o meu objetivo maior.
Como é hoje a Libertadores. Aliás, esse objetivo ficou muito bem definido e delineado pra mim e a maioria dos gremistas desde que o Grêmio conquistou a Copa do Brasil do ano passado, garantindo vaga na Libertadores/2017.
A partir dali Gauchão, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro passaram a ser secundários. Nunca houve exatamente uma desistência, mas sim todo um planejamento visando pegar a mais bonita da festa.
Se pegasse alguma “miss simpatia” no meio do trajeto, tudo bem, mas nada capaz de nos tirar o foco do troféu maior: a Libertadores.
Portanto, antes do jogo contra o Barcelona, nesta quarta-feira, quero reafirmar, para deixar muito claro e não deixar dúvidas, que sempre apoiei essa opção do comando gremista.
O Grêmio está muito perto de conseguir o troféu maior da temporada, concretizar o sonho de todos os gremistas, e, embora por vezes não pareça, até daqueles que não param de condenar o planejamento do clube, numa cantilena sebosa e irritante.
É possível, porém, que o Grêmio termine o ano sem faixa no peito, sem nada a comemorar.
Mais ou menos como eu naqueles tempos em que a minha maior preocupação era pegar a mais bonita da festa.
Perdia, mas ficava com a sensação de dever cumprido: pelo menos eu buscava o topo, a minha Libertadores particular.