Em longa entrevista para uma emissora de TV de Portugal, o técnico Jorge Jesus finalmente respondeu ao seu colega brasileiro, Renato Portaluppi. A resposta chega com uns três ou quatro meses de atraso, o que me lembrou um velho ex-piloto de F-1, até hoje alvo de brincadeiras e piadas.
Em setembro do ano passado, Renato, que ainda não descobriu que manter a boca fechada por vezes pode ser melhor para ele, decidiu questionar Jesus, que começava uma arrancada rumo aos títulos do Brasileirão (prioridade anual de um grupo de gremistas que mal lotam uma Kombi – vou ser linchado depois dessa) e da Libertadores.
Jesus bateu forte, mas com elegância.
— Eu achei que só poderia responder isso com trabalho. O Renato também nunca saiu do Brasil. Nunca ganhou nenhum Campeonato Brasileiro. Mas tudo bem, o Renato é um treinador querido no Brasil. Antes de eu chegar, ele era o número 1 — afirmou o português.
Esse português decididamente não é o das piadas. Sabe ser fino e ácido. Gostei da frase final: “Antes de eu chegar ele era o número 1”. O Renato deve estar se revirando. Esse missa ainda vai longe.
Tudo começou com essa declaração de Renato, sentindo-se ameaçado na disputa pelo trono de melhor técnico em atividade no país:
— Concordo que o Flamengo está jogando o melhor futebol do Brasil junto com o Grêmio, mas o Jorge Jesus ganhou só dois ou três títulos portugueses. E saiu de Portugal, foi para a Arábia. Ele nunca treinou fora de Portugal um grande clube na Europa. Nunca conquistou nada e está com 65 anos — disse Portaluppi.
Não precisava, mas aí não seria o Renato, que não deixa nada pra depois.
O fato é que os dois têm um tanto de razão.
Agora, se olharmos a trajetória dos dois, Renato ganha fácil em termos de consagração e conquistas como jogador e treinador. Até estátua virou.
Sem esquecer nunca que a carreira de Jesus, mediana como jogador e técnico (até esta passagem consagradora por aqui) se desenvolveu em Portugal, uma espécie de Goiás do futebol europeu.
Ah, os melhores momento do futebol português foram com dois brasileiros: Oto Glória, nos anos 60, e Felipão.
Mas o jogo não terminou, tem mais provocações por aí. É só uma questão de tempo.