Saio do estado de torpor que me domina e me afasta do blog para comentar rapidamente a experiência interessante que vivi neste domingo, ao rever, depois de tantos anos, a vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo em Tóquio.
Quem assistiu ao vivo a esse jogo memorável – disputado em 1983 – que levou o Grêmio a conquistar o PRIMEIRO título de campeão do mundo por um clube da região Sul do país dificilmente deixa de se emocionar.
Foi o que aconteceu comigo e deve ter ocorrido com muitos gremistas.
Trabalhei nesse jogo para revista Goool, edição histórica que conferi depois de assistia à reprise feita pela RBSTV para não me deixar influenciar pelo que foi escrito há 37 anos.
Eu era muito jovem, tinha cinco anos de jornalismo, e de lá pra cá mudei bastante, inclusive a maneira de enxergar futebol.
Algumas ideias mantive inalteradas: por exemplo, esse Grêmio do Valdir Espinosa não tinha um centroavante de ofício.
Intrigante é que depois de tanto tempo eu escreveria mais ou menos o mesmo que escrevi naquela época.
Éramos um bando de gremistas escolhidos para cobrir a final do Mundial de Clubes, reunidos na sede de uma empresa localizada no bairro Menino Deus. O grande amigo e companheiro da Folha da Tarde, Paulo Acosta (já falecido) era o editor.
Até hoje guardo na memória uma cena que simboliza o sentimento da torcida gremista: Acosta ajoelhado diante da TV de 20 polegadas, vibrando com o segundo gol de Renato, e beijando a tela.
Entre risos, abraços e lágrimas tivemos forças para concluir o trabalho, quando, na verdade, gostaríamos de sair e festejar. Ossos do ofício. Saímos do local de manhã cedo, cansados mas felizes.
Voltando aos textos que escrevi: fiz a crônica do jogo e uma cotação pra lá de ufanista, mais emocional que racional. Como ser racional em meio a tanta emoção, ainda mais depois que o Hamburgo empatou e ameaçou nosso título?
Os erros de um campeão a gente varre para debaixo do tapete.
Depois do que vi hoje, com todo esse distanciamento, tenho apenas uma certeza: Renato foi o diferencial. Sem ele a vitória não viria. Foi o único craque do time.
Vi muitos erros de passe, de virada de jogo, de lançamentos, situações de gol desperdiçadas, mas vi, acima de tudo, um time unido, valente, determinado. Um time de operários, a rigor, alguns com maior técnica, mas todos abaixo de Renato.
Se eu tivesse que dar notas eu ficaria entre o 7 e 8. Nota 10 só para Renato.
O Grêmio venceu, conforme escrevi naquela noite, porque jogou “à gaúcha”, com garra e determinação, deixando a técnica em segundo plano, apesar das presenças de Mário Sérgio e Paulo César Cajú, este pouco efetivo, percebo isso hoje.
Importante ressaltar que o estado do campo, quase um potreiro, prejudicou a qualidade do jogo, em especial o time tricolor.
Ainda mais importante é registrar que Renato sofreu um pênalti claro no segundo tempo. O juiz ignorou. Eu até tinha me esquecido desse lance. Quando vi na TV saltei do sofá, soltei um “filho da puta, juiz ladrão”.
Ainda bem que não tinha ninguém por perto para ver esse momento hilário. O que não faz uma quarentena…