Tite, a salvação de gremistas e sãopaulinos

Continuo no aguardo do meu visto para o Casaquistão, onde serei recebido não como um exilado político, mas como exilado esportivo.

Cheguei a pensar em me esconder em Cuba, onde nem à internet teria acesso, mas desisti porque aí estaria em território altamente hostil, sem qualquer tipo de liberdade. Talvez até acabasse numa masmorra como tantos que lutam contra a ditadura da múmia ambulante.

O fato é que a iminência de o Inter ser bi da Libertadores e o Grêmio tri na segundona me apavoram. Tenho amigos colorados que já compraram caixas e caixas de foguete. Um deles, ampliou uma foto do Roth e colocou na parede do seu quarto. Escreveu em cima: “São Roth”.

Outro colorado, que odiava o goleador Alecsandro até mais que o Juremir Machado, agora jura que não o trocaria nem pelo Nilmar.

Tenho amigos gremistas que não sabem mais o que fazer. Foram ao Olímpico quarta-feira, xingaram até a quinta geração do Duda, do Meira e do Silas, sairam do estádio sem voz e sem rumo. Andam como zumbis pela Cidade Baixa. Já passaram por todos os bares e ‘inferninhos’ da João Alfredo.

Estou viajando nesta sexta para o oeste catarinense. Existem muitos gaúchos por lá, a maioria gremista. Entre outras coisas, vou conferir se o Rio Uruguai subiu muito e se é verdade que dezenas de gremistas estão se suicidando por causa do time armado pela dupla Duda/Meia, com influência do Aprendiz.

Prometo notícias.

SAIDEIRA

Com o Inter subindo como o prestígio do Fortunatti depois que abriu a Ramiro bloqueada pelo PT, e o SP caindo como o conceito do Collares depois que abriu voto para o Tarso Genro, só vejo uma saída para impedir o bi colorado.

Claro, tem ainda a esperança de que Roth confirme sua biografia, mas já escrevi que a queda do Roth acontece depois de três meses. Portanto, na decisão da Libertadores ele ainda estará por cima da carne seca.

A minha sugestão é que o SP afaste de uma vez o Ricardo Gomes e contrate o Tite. Essa do Dunga é dose. O Dunga é outro aprendiz. Silas não, por favor. Seria ótimo que ele saísse, mas não para o SP, ao menos agora. Silas treinando o SP apenas aumentaria as chances de o Inter ser campeão.

Minha sugestão, então, é Tite no SP. Ninguém conhece o Inter melhor que o Tite, nem o Fernando Carvalho.

Se o SP quer ser campeão, que contrate o Tite. Além de conhecer o time colorado melhor do que qualquer um, Tite costuma se dar bem contra o Roth, seu freguês de caderno.

Se alguém puder, repasse essa sugestão à diretoria do SP.

Tite, a salvação.

Sigo agora para o oeste catarinense.

Até domingo, ou segunda.

Cinco sentimentos, uma esperança e outra decepção

Sentimentos que tive ao ver o Inter bater o Atlético Mineiro, lá, em Minas:

1 – surpresa ao ver o time tão organizado em tão pouco tempo.
2 – embasbacado pelo futebol moderno, rápido, marcação e velocidade
3 – inveja porque o Grêmio está muito longe disso, embora tenha alguém considerado treinador há meio ano
4 – pavor porque se continuar jogando assim vai ser campeão da Libertadores
5 – pânico porque depois poderá ser campeão do mundo de novo e ainda por cima campeão do brasileirão

Depois de entrar nesse turbilhão de sentimentos angustiantes e assustadores, me senti como alguém se afogando e fazendo esforço para voltar à tona, e em meio a esse esforço para sobreviver me veio um pensamento mágico, que me salvou. Emergi, busquei o ar salvador e senti que enquanto há vida há esperança, e que a esperança é a última que morre e todos os outros chavões nesse sentido.

Mas qual foi o pensamento que me salvou?

A esperança de que Celso Roth mantenha sua biografia. Por enquanto, está tudo como sempre: um começo deslumbrante, fascinante para o seu torcedor. Falta agora a queda.

Ela virá, não tenho dúvida. Mas talvez tarde, só depois da Libertadores.

Será que o clima no Casaquistão é bom?

SAIDEIRA

Musiquinha de campanha enviada pelo parceiro Francisco (que, aliás, de tão apavorado só fala em categoria de base do Grêmio, política e comida), direto de Alagoas:

É LuLLa apoiando Collor
É Collor apoiando Dilma
É os três pelo bem do povo

TROCANDO AS PERNAS

ACRESCENTO O TEXTO ABAIXO APÓS OUTRO EMPATE EM CASA DAQUELE TIME QUE GANHAVA TODAS EM CASA.

‘Nós temos uma gestão séria e responsável aqui no Grêmio’. A frase é do douto sr. Meira explicando por que não contratou Rever e outros após o empate com o Vasco por 1 a 1. Diz ele que Rever custaria 3 milhões de euros para voltar. Será mesmo?

A gestão ‘séria e responsável’ seria por acaso a mesma que paga mais de 200 mil mensais a FR, ao Leandro, e outros?

O ilustre comandante futebol tricolor se mostra indiferente às vaias da torcida. Para ele, uma segmento da torcida quer a sua saída, e também a do Duda e a do Aprendiz. Acredita ele, ou finge acreditar, que é uma parcela pequena que quer essa mudança radical.

Teve também o discurso do presidente e do aprendiz. Segundo eles, o campo encharcado prejudicou a reação do Grêmio. O Vasco, nesse raciocínio idiota e/ou afrontoso à inteligência das pessoas, foi beneficiado pelas condições do gramado.

Arrisco dizer que num campo normal o Grêmio teria perdido.

Enfim, Silas continua, Meira continua e Duda continua.

Como é mesmo o clima no Casaquistão?

Cinco doses ácidas

1ª dose – Informação que obtive de duas fontes absolutamente confiáveis: o vice-presidente Luís Onofre Meira é motivo de chacota por parte dos jogadores.
Se é assim, e não tenho por que duvidar, a situação é mais feia do que parece.
Afinal, o presidente Duda Kroef afirmou que a influência de pressões contra Silas e Meira é zero, que ele está acostumado com isso desde piá.
Vamos ver se a firmeza demonstrada pelo presidente resiste a um eventual resultado negativo contra o Vasco.

2ª dose – Leio declarações do preparador físico Anderson Paixão sobre o momento do time, lesões, etc. Ele diz que em todos os clubes existem jogadores lesionados. Citou, por exemplo, o zagueiro Miranda, que desfalcou o SP por causa de um corte.
O que se questiona é o elevado número de lesões musculares no time gremista desde o começo do ano, nunca contusões resultantes de ação externa.
A propósito, o preparador físico não deveria ser o Paulo Paixão?
Por melhor que seja seu filho, Paixão é insubstituível. É um dos profissionais mais conceituados da área e, pelo que sei, tem forte influência no vestiário.
É inegável que falta pelo menos uma voz forte e impositiva no vestiário gremista.

3ª dose – Soube pelas minhas fontes que alguns jogadores andam abusando da bebida, o que ajuda a explicar o declínio do time – além do despreparo do treinador – após a Copa do Brasil.
No recesso, sem maiores compromissos, o pessoal pode ter passado da conta.
E como aparentemente não há maiores cobranças, o resultado é um time incapaz de se impor ao adversário, mesmo que seja um Vitória, em casa, e o Prudente com um jogador a menos.
Ah, esse pessoal não freqüenta o boteco.
Aqui, se aparecerem, é só água. Da torneira.

4ª dose – A constatação que fiz já faz uns 10 dias sobre a perda de comando do vestiário pelo técnico aprendiz ganhou múltiplas adesões desde ontem. Muita gente da mídia e fora dela está chegando agora à mesma conclusão.
Se nem assim o presidente Duda vê motivo para mudar…

5ª dose – O Grêmio poderia alterar seu estatuto. Sugestão: proibir que o comando do futebol fique nas mãos de empresário que anuncie seu produto na mídia que faz cobertura esportiva.

Qualquer relação com o que está acontecendo não é mera coincidência.

Inter rumo à Libertadores e a Ramiro liberada

A Fifa, entidade séria e absolutamente inatacável, escancarou a janela. O Inter pode registrar Tinga, Renan e Sobis (esqueci alguém ou fica por aí?) no Brasileirão e na Libertadores.

Mas não fica por aí: Tinga, que deveria cumprir suspensão de um jogo pela expulsão contra o SP em 2006, está livre para jogar. A punição expirou.

Os deuses do futebol abraçaram o Inter?

Não, isso é obra dos homens, a começar pelo presidente Chico Noveletto, da FGF, que de vez em quando pensa em disputar a presidência do Inter, seu clube de coração.

A direção do Inter trabalha com muita eficiência nos bastidores.

Quando alguém, no futuro distante, escrever a história do futebol gaúcho neste início de século, irá concluir que a superioridade colorada sobre o Grêmio neste período foi em razão da melhor qualidade de seus seus dirigentes.

Se bem que já hoje isso está muito claro.

O Inter segue rumo ao título da Libertadores como um navio de armada, enquanto o Grêmio parece uma nau desgovernada rumo a um iceberg, conforme escrevi semanas atrás.

PERGUNTINHA

Afinal, por que essa tal de janela de transferências?

SAIDEIRA

Uma boa notícia, afinal: a Ramiro Barcelos foi reaberta. A ‘grande obra’ da administração petista em Porto Alegre foi o fechamento absurdo da Ramiro Barcelos, 15anos atrás. Felizmente, agora estamos mesmo numa ‘cidade viva’. Seria melhor se nos 16 anos de poder o PT tivesse feito as obras necessárias, especialmente no trânsito.

Hoje, saí do meu caminho só pra ter o prazer de cruzar a Osvaldo Aranha pela Ramiro. Fazia frio e chovia. Mas eu me senti feliz. Grato, Fortunatti.

Collares, uma decepção

É ruim quando uma pessoa que a gente admira e confia nos decepciona.

Nunca me decepcionei com o Collor, Sarney, FHC e o Lula. Nunca nada deles esperei diferente do que eles fizeram e ainda fazem.

Ficaria arrasado se o Brizola tivesse em algum momento me decepcionado. Ele era e é minha referência política.

Enfim, muita gente já me decepcionou ao longo da vida. E não tenho dúvida de que devo ter causado decepção a alguém.

Só para me limitar ao âmbito da política:

Alceu Collares, sim, me decepcionou. Sei que posso surpreender – e até decepcionar – alguém com essa afirmação: eu gosto do Collares. Quer dizer, cada vez gosto menos. Mas sei que muita gente o detesta, inclusive entre esse grupo ao qual se aliou aqui no Estado, o PT. Por interésses, como diria o tio Briza, eles trocam sorrisos.

Houve uma época, Collares na prefeitura e no Piratini, em que o PT simplesmente tentou destruir seu novo parceiro. O PT fez de tudo para liquidar o Collares, e não apenas o político, mas o cidadão.

Hoje, Collares está ao lado desse pessoal, apoiando o Tarso. Insinuam que é por causa do emprego que ele tem no governo Lula. Emprego de consultor, em que se aparece de vez em quando e se ganha uma nota. Na ZH de hoje ele evitou dizer quanto ganha e lembrou sua história para respaldar sua decisão sob todos os aspectos lamentável. Ele sustenta, ainda, que está seguindo a diretriz traçada pelo PDT nacional: que é ficar ao lado de Lula e do PT.

Collares nunca foi de seguir diretriz, a não ser quando lhe interessasse.

Enfim, Collares volta a me decepcionar. A primeira vez foi quando ele assumiu o governo do Estado, derrotando o PT, que depois o atacou ferozmente como um pitbull faminto.

Eu esperava, naquela época, que ele, como seguidor de Brizola, fizesse uma revolução modelo na educação gaúcha, com melhores salários para os professores e uma política séria e diferenciada nessa área.

Ele fez uma revolução, mas uma revolução negativa, com aquele absurdo que foi o calendário rotativo idealizado por sua companheira Neusa.

Foi uma grande decepção. Até maior do que esta de apoiar o PT para o governo gaúcho, porque desde aquela época estou vacinado em relação ao Collares. O que ele diz e faz já não me surpreende tanto.

Agora, é duro assistir à derrocada de uma pessoa que a gente um dia admirou.

É por essas e outras que sei o quanto sofreram aqueles petistas autênticos, sinceros em seus propósitos, que um dia depositaram suas esperanças em Lula, José Dirceu, Genoíno e outros.

Por outro lado, não entendo aqueles que, mesmo decepcionados, continuam fiéis.
Quer dizer, até entendo…

De minha parte, voto agora no que considero o menos pior.

Contagem regressiva para Silas

Alguém contou quantas vezes o Grêmio esteve a ponto de marcar um gol contra o poderoso Prudente?

O time titular (sim, o titular) de Silas foi bisonho. Perdeu por 2 a 0, mas poderia ter levado mais um ou dois gols que não seria injustiça. Ah, e jogou mais da metade do segundo tempo com um jogador a mais, mas foi como se o adversário estivesse com onze também.

Victor voltou a ser o grande goleiro que conhecemos.

É possível que alguém lembre que o Grêmio teve um pênalti a seu favor, mas que o juiz marcou fora da área. Os comentaristas de rádio referiram esse lance, quase no final da partida.

Mas é muita mediocridade exigir que o juiz acerte quando o time todo foi um erro só, erros individuais e, o principal, o erro coletivo de um sistema que não funciona porque simplesmente não tem um comando competente.

Um aparte: alguém ouviu algum dirigente ou algum jogador protestar contra a arbitragem? Foi de vergonha? Ou foi porque não tem ninguém no vestiário para erguer a voz e ao menos registrar seu protesto em nome da instituição?

O Grêmio de Silas, de Meira e de Duda é isso. Perdido e desorientado em campo, sem rumo, sem comando fora dele.

Alguém aí perdeu seu tempo ouvindo as vozes do vestiário gremista? Silas chegou a dizer que é preciso também ver o outro time, que jogou muito bem e foi melhor. O outro time deve ter sido o Chelsea, o Barcelona, não o modesto Grêmio Prudente.

O sr Meira manteve inalterado seu tom de voz. Na alegria e na tristeza sempre a mesma coisa. Lá pelas tantas admitiu pressão interna para trocar o treinador, mas observou que está difícil encontrar alguém para o cargo e insinuou um pedido de sugestões. Algo assim: não adianta só pedir a saída de Silas, precisa indicar um substituto.

E eu que pensava que o diretor de futebol é que deveria ter essa resposta, porque está ali justamente para enfrentar esse tipo de situação.

Se ele não sabe, não seria o caso de encontrar alguém de saiba e colocar no lugar?

Silas na semana passada projetou dez pontos em 12. No primeiro jogo, conquistou apenas um. Neste domingo, zero.

Agora, a minha projeção: o Grêmio vai conquistar dois pontos em 12. Tem o Vasco e o Cruzeiro pela frente.

O Grêmio chegou à zona de rebaixamento mais rápido do que eu havia projetado há uns dois meses, quando fui criticado por alguns botequeiros, chamado de pessimista, ave agourenta, e sei lá mais o quê.

Eu escrevi que o Grêmio se continuasse com Silas depois da Copa seria candidato ao rebaixamento. Se insistir com ele, a queda será inevitável. Penso que agora isso já é unanimidade.

O pior é que não sei se só a saída de Silas vai adiantar alguma coisa.

SAIDEIRA

Para agravar o quadro febril do Grêmio, temos o Inter acumulando seis pontos em dois jogos e já se aproximando da zona da Libertadores.

E não apenas isso, o que já é muito, porque o negócio é somar pontos, o time de Roth está jogando um futebol convincente. Ainda não entusiasma, mas joga para o gasto e vai subindo, enquanto o Grêmio cai.

Agora, os fãs de Pato Abondanzieri devem ter perdido um pouco de seu entusiasmo juvenil em relação ao goleiro. Ele falhou no gol do Ceará, faltou-lhe agilidade e reflexo.

Imaginem se isso acontece contra o São Paulo…

FECHANDO A CONTA

Tite seria o treinador ideal, mas sem Meira no comando. E teria de mudar também a preparação física, imagino eu. Então, descartado. Ou não?

Adilson Batista não me entusiasma, mas é melhor que o Silas. Dorival Jr é outro ofensivista.

O velho Moura

Um dos maiores orgulhos de Paulo Moura era contar que ninguém sabia qual a cor do seu time.

– O Petry (Rudi, um dos mais importantes dirigentes do Grêmio nos anos 60 e 70, e sempre muito influente) nunca descobriu qual o meu time. Ele dizia que sabia o time de todos os repórteres, menos o meu -, lembrava, todo orgulhoso.

Esse curto relato ouvi dezenas de vezes ao longo de mais de 20 anos de convívio com o Moura na redação do Correio do Povo, desde os tempos do ‘jornal grande’, tamanho standard, ao atual.

Moura trabalhou quase cinco décadas na Caldas Júnior. Começou na antiga Folha Esportiva, na curva dos anos 50 para os 60.

Moura era um grande profissional, uma formiguinha para trabalhar. Sentava e já dedilhava sua Remington, ou Olivetti. Lembro da transição da máquina de escrever para o computador, isso há uns 20 anos.

– Eu nunca vou aprender a trabalhar com isso. Tenho que largar – resmungava.

Mas Moura aprendeu, assim como eu e outros dinossauros.

Moura não era de muita brincadeira no trabalho. Era compenetrado, mas aos poucos era envolvido pelo clima ruidoso da editoria de esportes. Outras vezes, reclamava de uma risada mais espalhafatosa (claro, do Chico Izidro), das broncas do Possas, das piadas, das conversas paralelas em tom elevado, das brigas do Chicão com o Possas, etc.

– Vocês não trabalham, não tem o que fazer?

Reclamava também do Agenda Negativa, apelido que dei ao Carlos Corrêa, que sempre vinha com notícia ruim dos clubes.

Agora, se derretia para a Mariana, a dama do esporte. A primeira a se firmar na editoria depois de décadas de domínio de cuecas.

Conquistador inveterado, distribuia balas para as gurias da redação. Só para as mais belas. A Vivian, então na diagramação, o explorava. Todas as noites se encostava ao lado do Moura, com um sorriso sedutor e voz melosa.

Moura já sabia. Abria sua gaveta discretamente e entregava balinhas com um olhar safado que ficava acompanhando a Vivian se afastar feliz.

Enciumada, a Mariane, que só comia alface e tomate quando se incorporou à nossa equipe, também aderiu às ‘balinhas do Moura’.

E eu ali, ao lado do Moura, esse tempo todo, sempre lançando umas pegadinhas para ver se ele se traía em relação ao seu time do coração.

– Moura, um dia a gente vai te dar um porre e tu vai se abrir – eu o provocava.

Ele sorria e garantia que nunca seu segredo seria revelado. De vez em quando ele se traía, o que gerava meia hora a mais de bagunça na editoria.

A gente brincava também com o saudosismo dele no futebol. Ele não se cansava de citar craques do passado, normalmente do Grêmio, como o Gessy, o Juarez, o Airton. Por que será?

– Hoje é tudo japonês -, repetia.

Foi o que ouvi do Moura quando o vi pela última vez num churrasco de confraternização, há uns 20 dias, quando conversamos rapidamente sobre a Copa do Mundo. Ele dizia que só tinha visto seleção ruim.

Logo que me viu, ele reclamou que eu saí do jornal sem me despedir. Respondi que foi uma decisão repentina, que não deu tempo…

Moura brincou muito com a gente aquela noite. Bebeu muita cerveja, não como nos velhos tempos, em que ele era dos últimos a deixar a mesa. Perguntou como eu me sentia depois de deixar o CP. Só sinto falta de vocês, das nossa amizade, nossas brincadeiras, respondi.

Moura parecia mais cansado, mas estava animado como sempre, brincalhão. Rimos muito.

Moura saiu mais cedo do que de costume. Colocou o seu boné. Eu o abracei com força. Sabia que ele estava meio doente. Ele sorriu quando nos separamos. Percebi uma sombra de melancolia naquele sorriso, naquele olhar.

Foi a última vez que vi o Mourinha.

A despedida final, mesmo, será daqui a pouco, neste sábado chuvoso e triste. Estou indo para o velório do meu velho parceiro, no São Miguel e Almas, junto ao estádio Olímpico.

Já não verei o sorriso generoso e amigo do velho Moura.

'Um dia o Grêmio ganha fora'

Ainda com os dedos congelados, arrisco teclar. Além dos dedos congelados, virando picolé, fiquei de cabelos em pé depois de ler que o sr Meira, o brilhante estrategista e condutor da política de futebol do Grêmio, declarou que ‘um dia o Grêmio vai vencer fora de casa’.

Na era PS (Pré-Silas), o Grêmio vencia em casa e perdia fora. Hoje, tanto faz, perde ou empata em casa e também fora.

Eu cheguei a acreditar que o Silas daria uma boa resposta depois de acampanhar um pouco seu trabalho no Avaí. Concordei com sua contratação. Errei, mas erros no futebol podem ser corrigidos assim que detectados. A direção insiste em manter o erro.

Adilson Batista está desempregado. Sei que muita gente no Olímpico gosta dele. Mas quem manda é o poderoso sr Meira, diante da omissão do presidente do clube.

O Dorival Jr, prioridade do clube anteriormente, está a perigo no Santos. Sofre contestações das principais estrelas.

Talvez os doutos do Olímpico estejam esperando sua queda, pode ser.

Ou talvez acreditem em milagres, ou seja, que Silas tem condições realmente de armar um time em condições de brigar por vaga na Libertadores. Claro, título do Brasileiro nem pensar.

Noite de 'terrir' no Olímpico e o (des) comprometimento

É fácil prever o que vai acontecer nos jogos do Grêmio. Antes do jogo contra o Vitória, disse a um amigo que se preparava para ir ao Olímpico na noite gélida:

– Será um filme de terror, não vai.

Depois, me ligou de dentro do estádio. Estava apavorado. Posso imaginar o quanto ele sofreu, ele e todos que foram ao jogo ver que o Grêmio, depois de 40 dias de pausa, com todo o tempo para treinar e se entrosar, voltou ainda pior.

Eu vi o jogo pela TV, enrolado em cobertores, tomando sopão e degustando um vinho tinto que trouxe de Jaguarão.

Aconteceu tudo conforme eu imaginava. Foi um filme de terror, misturado com comédia pastelão. Antigamente se dizia um filme de ‘terrir’.

O Aprendiz quanto mais treina, mais piora o time. Sem contar o que já escrevi aqui: ele perdeu o comando.

Ele começou com Leandro. É possível que Leandro quando puder jogar cinco partidas seguidas sem sofrer lesão possa dar uma resposta melhor, é possível. Técnica ele tem.

Agora, é inegável que Maylson com sequência correspondeu. Mas Maylson sabe, e o Aprendiz faz questão de deixar isso claro, que ele não passa de um tapa-furo. Por mais que jogue e faça gols, irá para a reserva assim que Leandro estiver apto a jogar.

Vocês conseguem imaginar o quanto isso é ruim para qualquer profissional, principalmente para um oriundo da base ver os medalhões sempre privilegiados?

Situação assim serve apenas para tirar a confiança do jogador, no caso, de Maylson.

Por que não começar com Maylson e colocar Leandro no decorrer dos jogos até que ele prove de uma vez por todas que tem condições de resistir?

Coisas de Aprendiz, ou de técnico comprometido com os medalhões e com a diretoria que quer ver seus contratados jogando de qualquer jeito.

Nos últimos anos, nunca o Grêmio se mostrou tão frágil em sua casa, seu templo, como agora. Depois de mais de um ano acumulando vitórias no Olímpico, o Grêmio hoje já não mete tanto medo em seu estádio. Conseguiu perder para o Pelotas, imaginem.

O Aprendiz e essa diretoria estão fazendo ruir a mística gremista, que ainda sobrevive graças a jogadores como Adilson e à torcida.

Em contraponto, o Inter bateu o Guarani fora de casa. Vi partes do jogo. O Guarani é mais fraco que o Vitória, sem dúvida, mas jogava em seu estádio. O que importa é que vi um Inter organizado, que conseguiu trocar passes, que marcou bem e atacou com velocidade. É cedo para avaliar se é resultado do trabalho de Roth.

SAIDEIRA

Recuperando uma palavra muito usada por Dunga: comprometimento. Não vejo comprometimento do sr. Silas com a história, a tradição, a grandeza do Grêmio.

E isso desde a primeira vez em que ele foi vaiado e declarou que isso não importava porque havia outros grandes clubes interessados em seu trabalho.

SAIDEIRA II

Tenho que trabalhar com o que tenho, disse o Aprendiz. Ele tem um grupo de 4 milhões de reais mensais nas mãos.
O que ele tem é insuficiente? Como terá repercutido essa avaliação entre os jogadores? e entre os dirigentes que fizeram as contratações?
A casa está caindo. Pena que os doutos irão sobreviver.

Sindicato dos Jogadores perde ação para virada de mesa

‘O juiz Carlos Alberto May, titular 20° Vara do Trabalho de Porto Alegre, decidiu não acolher o pedido de antecipação de tutela solicitado pelos advogados do Sindicato dos Jogadores Profissionais do Rio Grande do Sul. Com isso, os atletas transferidos de clubes do Exterior devem aguardar a abertura oficial da janela de transferências internacionais. A decisão atinge em cheio as pretensões do Inter. Paulo César Tinga, Renan e Rafael Sobis, agora, dependem da autorização direta da CBF para serem inscritos e jogarem a Libertadores da América e o Brasileirão. O presidente da entidade, Ricardo Teixeira, deve se pronunciar hoje. A tendência é que antecipe a janela e autorize os clubes a efetuarem as inscrições de seus jogadores, como quer o Inter.’

Esta notícia é do sempre atento Fabrício Falkowski, mais conhecido como Bito Fura-Fura.

O Sindicato dos jogadores se quebrou nessa. Ainda bem, porque se existe um regulamento ele deve ser cumprido. Se fosse o SP reivindicando a inscrição de jogadores, não o Inter, como estaria reagindo a mídia isenta do RS?

Não precisam responder.

Aliás, o Sindicato sempre tão preocupado com a saúde dos jogadores gaúchos em relação a jogar com excesso de calor não vai entrar com ação judicial para vetar o jogo desta noite no Olímpico?

A previsão é de sensação térmica inferior a zero grau. Se o calor faz mal, o frio muito mais, conforme se pode ver nas emergências hospitalares, mais do que superlotadas.

Ah, como um país tão carente de coisas básicas pode se dar ao luxo de sediar uma Copa do Mundo, gastando bilhões só para atender exigências dos velhinhos da Fifa, beneficiando empreiteiros de todas as grandezas?

Dinheiro para construir e reformar estádio tem. Para leitos hospitalares, consultas médicas, procedimentos cirúrgicos, exames, etc, aí não tem.