Governo gaúcho sinaliza que pode ceder à pressão do Grêmio

Depois da pressão do Grêmio, que anunciou sua saída do Estado para treinar em Santa Catarina, mais exatamente em Criciúma, o governo gaúcho busca uma saída honrosa.

Afinal, depois de perder um empreendimento como o do Mercado Livre, ficou feio, pra dizer o mínimo, ver o Grêmio sair em busca de um lugar para treinar de forma plena, o que no momento é proibido por uma norma do governo estadual.

O fato é que o governador Eduardo Leite, assim como a maciça maioria dos seus colegas, está mais perdido que cusco em procissão e cego em tiroteio.

Leite, que se diz amparado por técnicos especialistas, já projetou dois ou três picos de contaminação pelo corona vírus, e agora diz que o pior virá em duas semanas.

Bem, eu que não sou especialista de nada, mas lá atrás, em março, dias depois de a OMS (entidade que perdeu todo o meu respeito) decretar, com um atraso inaceitável, a pandemia, avaliei que o pior no Rio Grande do Sul seria nos meses de frio.

Então, medidas extremas que levaram ao fechamento de empresas e ao desemprego, deveriam ocorrer mais adiante, não em março e abril, abalando a economia.

Mas isso já passou e não tem mais volta. O que ainda tem volta é essa determinação ridícula de impedir treinos de futebol em que haja contato físico, como nos coletivos. Nem vou me estender nesse assunto.

Ontem, o Eduardo Leite, que parece um nenê pedindo o colo da mãe, lançou uma nota, trecho abaixo, dando a entender que pode recuar a respeito dos treinamentos como bola e contato físico.

“Sobre o retorno do Campeonato Gaúcho, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul informa que segue avaliando o protocolo encaminhado pela Federação Gaúcha de Futebol. No momento, o Comitê Científico está concluindo uma análise sobre a volta dos treinos com contato físico. 

A estimativa é que a conclusão aponte que o retorno do campeonato possa ocorrer entre o final de julho ou começo de agosto. A liberação dos treinos ocorreria antes…”

Quer dizer, estava tudo certo, dentro das diretrizes do tal “Comitê Científico”, mas bastou o leão, o Grêmio, rugir, que tudo pode mudar, com algum “embasamento científico” de última hora.

O resultado é que talvez no início de agosto o Gauchão recomece. Se não reiniciar, vale o que o presidente Romildo já falou: entreguem as faixas ao Caxias. E fim de papo. Por mim, eu faria um quadrangular com os quatro melhores pontuadores até agora.

Só espero que o presidente Romildo não recue e mantenha a decisão de levar o time a treinar acima do Mampituba.

Santa Catarina já mostrou que sabe receber bem os que não são abrigados pelo “pujante” estado gaúcho.

O manjado golpe do telefone

Fugindo do assunto principal deste espaço, segue abaixo texto publicado no Informe Especial do Jornal do Comércio:

Levei um susto quando atendi o telefone fixo de casa, esta semana, em Porto Alegre. Na verdade dois sustos. O primeiro porque a voz do outro lado, uma voz feminina, chorosa, manifestava desespero, pânico.

– Pai, fui assaltada, pai. Eles querem dinheiro, pai.

O segundo susto, ou surpresa, foi descobrir que ainda tem gente aplicando esse golpe, mais manjado que o conto do bilhete – será que ainda é aplicado e tem gente que ainda cai nele?…

Depois de longo tempo estava diante de novo dessa trapaça anacrônica, obsoleta, mas que, pelo jeito, permanece, até porque se a pirâmide também ainda existe e segue lucrativa, por que não o golpe do telefonema ameaçador?

Ao ouvir a voz falsamente desesperada, senti vontade de brincar, como havia feito em outras situações parecidas. Não sei se é efeito da quarentena, o fato é que ando sem paciência. Respondi secamente:

– Vou chamar a polícia.

Ela desligou de pronto.

Uma dica a quem receber esse tipo de ligação: se a suposta vítima for um “filho” diga um nome bem diferente para afastar qualquer dúvida sobre a veracidade da ameaça.

Foi o que fiz na minha primeira vez, uns 15 anos atrás: atendi o telefone e veio uma voz que lembrava a da minha filha. Cheguei a vacilar, pensando que poderia mesmo ser verdadeira a ameaça. Deu um frio na barriga. Mas não me entreguei:

– Marisa (foi o nome que me ocorreu na hora), onde tu estás minha filha?

Aí a minha ‘filha’ insistiu, eu desliguei, aliviado, dizendo “perdeu”.

A segunda situação foi um sujeito com forte sotaque nordestino se fazendo passar por meu filho, pedindo 50 mil reais.

Nem respondi.

https://www.espacovital.com.br/publicacao-38036-ameaca-pelo-telefone-e-outros-golpes

Política pés no chão e mata-mata no Brasileirão

Estamos na metade do ano e nada de definições sobre as competições. Se eu não perdi alguma coisa, não sabemos como será o Gauchão, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro.

Eu, aqui na minha prisão domiciliar, ando mais preocupado em sobreviver do que com as coisas do futebol. Por isso, ando meio ausente deste espaço.

Mas sinto-me motivado a fazer uma pausa em meu recolhimento existencial a partir de um tema que apareceu numa entrevista de rádio do vice de futebol, Paulo Luz, que se mostrou muito bem preparado para o cargo.

Aprovei quando ele falou sobre os objetivos do clube à esta altura, em meio a quarentena e incógnitas.

Ao ser questionado sobre títulos, qual seria a ambição do Grêmio, ele foi muito claro e transparente. Disse mais ou menos o seguinte:

-O Grêmio vai jogar para vencer as competições que tiver pela frente. Temos grupo para isso. Mas hoje eu diria que nosso maior título seria chegar ao final do ano com as contas em dia, finanças equilibradas para entrar em 2021 com o clube bem financeiramente.

Quer dizer, o Grêmio vai em busca de títulos, mas sempre com os pés no chão, como tem sido até agora.

Sobre as competições, acho que dá para seguir com o Gauchão – se a situação não se agravar – e o Brasileiro. Por mim, tirava a CB do calendário, até porque duvido que haverá premiação milionária neste ano.

A CBF, a meu ver, deveria focar no Brasileiro – e o Grêmio idem depois de tanto tempo.

Eu aproveitaria e mudaria a fórmula da competição. De preferência, com disputa de mata-mata, tornando o campeonato mais emocionante, até para compensar o marasmo causado pela quarentena.

O título mundial de 1983 visto 37 anos depois

Saio do estado de torpor que me domina e me afasta do blog para comentar rapidamente a experiência interessante que vivi neste domingo, ao rever, depois de tantos anos, a vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo em Tóquio.

Quem assistiu ao vivo a esse jogo memorável – disputado em 1983 – que levou o Grêmio a conquistar o PRIMEIRO título de campeão do mundo por um clube da região Sul do país dificilmente deixa de se emocionar.

Foi o que aconteceu comigo e deve ter ocorrido com muitos gremistas.

Trabalhei nesse jogo para revista Goool, edição histórica que conferi depois de assistia à reprise feita pela RBSTV para não me deixar influenciar pelo que foi escrito há 37 anos.

Eu era muito jovem, tinha cinco anos de jornalismo, e de lá pra cá mudei bastante, inclusive a maneira de enxergar futebol.

Algumas ideias mantive inalteradas: por exemplo, esse Grêmio do Valdir Espinosa não tinha um centroavante de ofício.

Intrigante é que depois de tanto tempo eu escreveria mais ou menos o mesmo que escrevi naquela época.

Éramos um bando de gremistas escolhidos para cobrir a final do Mundial de Clubes, reunidos na sede de uma empresa localizada no bairro Menino Deus. O grande amigo e companheiro da Folha da Tarde, Paulo Acosta (já falecido) era o editor.

Até hoje guardo na memória uma cena que simboliza o sentimento da torcida gremista: Acosta ajoelhado diante da TV de 20 polegadas, vibrando com o segundo gol de Renato, e beijando a tela.

Entre risos, abraços e lágrimas tivemos forças para concluir o trabalho, quando, na verdade, gostaríamos de sair e festejar. Ossos do ofício. Saímos do local de manhã cedo, cansados mas felizes.

Voltando aos textos que escrevi: fiz a crônica do jogo e uma cotação pra lá de ufanista, mais emocional que racional. Como ser racional em meio a tanta emoção, ainda mais depois que o Hamburgo empatou e ameaçou nosso título?

Os erros de um campeão a gente varre para debaixo do tapete.

Depois do que vi hoje, com todo esse distanciamento, tenho apenas uma certeza: Renato foi o diferencial. Sem ele a vitória não viria. Foi o único craque do time.

Vi muitos erros de passe, de virada de jogo, de lançamentos, situações de gol desperdiçadas, mas vi, acima de tudo, um time unido, valente, determinado. Um time de operários, a rigor, alguns com maior técnica, mas todos abaixo de Renato.

Se eu tivesse que dar notas eu ficaria entre o 7 e 8. Nota 10 só para Renato.

O Grêmio venceu, conforme escrevi naquela noite, porque jogou “à gaúcha”, com garra e determinação, deixando a técnica em segundo plano, apesar das presenças de Mário Sérgio e Paulo César Cajú, este pouco efetivo, percebo isso hoje.

Importante ressaltar que o estado do campo, quase um potreiro, prejudicou a qualidade do jogo, em especial o time tricolor.

Ainda mais importante é registrar que Renato sofreu um pênalti claro no segundo tempo. O juiz ignorou. Eu até tinha me esquecido desse lance. Quando vi na TV saltei do sofá, soltei um “filho da puta, juiz ladrão”.

Ainda bem que não tinha ninguém por perto para ver esse momento hilário. O que não faz uma quarentena…

A decepção causada pelo grande capitão tricolor

É inevitável. Não é raro a gente deparar com pessoas que por uma razão ou outra acabam, em algum momento, nos decepcionando. E isso ocorre em várias atividades.

No futebol, então, as decepções são comuns. Mas nada que me tire o sono, numa comparação com a política partidária.

É o dirigente, é o técnico, é o jogador. É importante frisar que a decepção só acontece com alguém em que se cria uma expectativa otimista. Quanto mais otimismo, maior a decepção.

Um caso emblemático: André. Não esperava muito dele, mas acreditei que ele poderia ser o goleador que o time precisava. Pior que ele é Diego Tardelli, este sim quase uma unanimidade. Maior decepção dos últimos anos, ao menos pra mim.

Os dois tiraram, e ainda tiram, um bom dinheiro do Grêmio, um dinheiro que está se tornando cada vez mais escasso em razão da pandemia, que amontoa vítimas pelo mundo, provoca fechamento de empresas e desemprego incontrolável e assustador.

Tudo isso já respingando no futebol.

E é aí que entra um jogador que conquistou meu respeito e admiração por suas ações dentro e fora de campo. Como esquecer a peitada no galinho vermelho num Gre-Nal? E sua liderança no vestiário e firmeza dentro de campo.

Realmente, o grande capitão do time que encantou o país e lavou minha alma.

Ele estava cotado para entrar na minha seleção tricolor de todos os tempos. Assim como não há lugar para traíra no meu time, está fechado o acesso para aqueles cuja conduta não é a mais adequada, diante da minha ótica.

A decepção com Maicon é extra-campo. Ele entrou na justiça do Trabalho contra o São Paulo (posso imaginar que fará o mesmo no Grêmio) cobrando adicional noturno e jogos aos domingos e feriados.

É o fim da picada! A bola do futebol já está murchando no meio da pandemia, e ficará no bagaço se Maicon tiver seguidores. Prevejo quebradeira de clubes.

Maicon, que venceu em segunda instância (na justiça do trabalho pelo jeito ela, a segunda instância, vale para condenar e mandar alguém pra cadeia), deve receber uns 700 mil reais.

Ele se defende dizendo que foi muito sacaneado por outros clubes, e até citou alguns. Nada, porém, que justifique essa cobrança a meu ver absurda, tão absurda quanto a decisão do juiz.

O Corinthians já está tomando providências. Vejam só:

“O Corinthians comunicou à Federação Paulista de Futebol, à CBF e à Rede Globo de que não deseja mais jogar aos domingos e também à noite. A medida visa evitar eventuais processos trabalhistas.

A decisão do clube acontece dias após o volante Maicon ganhar ação do São Paulo na Justiça devido à falta de pagamento de adicionais noturnos e atividades realizadas aos domingos e feriados no período em que defendeu o time paulista (de 2012 a 2015)”.

Chegou a hora de os clubes se unirem, se aliarem à CBF, as federações e as empresas que veiculam jogos de futebol.

Justiça trabalhista no futebol

Tive acesso a uma reclamatória trabalhista de um ex-integrante da comissão técnica do Grêmio.

Ele pede coisas que eu sequer imaginava ser possível. São uns 20 ítens. A maioria, pra mim, novidade.

Se ele for vitorioso será outro caso que irá gerar jurisprudência.

Penso que o jogador de futebol não pode ser tratado como um trabalhador comum. Mas também necessitam de amparo, principalmente a grande maioria que joga por dois ou três salário mínimos.

Agora, deve sempre prevalecer o bom senso.

O meu melhor Grêmio de todos os tempos (parte 1)

Muita gente aproveitando a quarentena para propor que cada um forme sua melhor equipe gremista e algo parecido.

Confesso que tenho enorme dificuldade para formar apenas uma seleção do Grêmio juntando jogadores de épocas diferentes.

Começo escrevendo sem saber qual o time que formarei como sendo o ‘meu’ Grêmio. Espero chegar a uma conclusão em seguida ou até a próxima quarentena (esse negócio de vírus não termina aqui, vocês sabem).

Na verdade, nunca dei bola pra isso, mas já participei desse tipo de distração algumas vezes, sempre depois e ou durante rodadas de cervejas ou chopes cremosos, como diria o David Coimbra.

Aliás, faz anos, uns 15 anos, que eu, David e outros colegas montamos uma seleção do melhor Grêmio. Foi após um jogo de futebol de salão entre CP e ZH (perdemos porque nosso único goleiro saiu no intervalo para ficar bebendo ao lado da cancha enquanto a gente se matava na quadra).

Bem, hoje eu não me limito a formar apenas um time. Preciso homenagear, por exemplo, o time dos 12 títulos em 13 anos, conforme definiu o Ricardo Wortmann.

Foi um Grêmio que eu, guri cheio de sonhos e expectativas, acompanhei pelo rádio (Guaíba) e pela Folha da Manhã ou Folha Esportiva na praça matriz de Lajeado, entre uma bergamota e outra ao lado do meu amigo Ricardo, hoje morador de Cruzeiro do Sul.

Sei de cor e salteado a escalação desse meu ‘melhor Grêmio’:

Alberto (o melhor goleiro que eu não vi jogar); Altemir, Airton Áureo e Ortunho: Cléo e Sérgio Lopes; Babá, Joãozinho, Alcindo e Volmir.

Tem ainda o goleiro Arlindo, além do Vieira e Milton Kuelle (jogadores modernos), e de Paulo Lumumba e Marino. São os nomes que me ocorrem.

Sobre o Marino, que fez 4 gols num Gre-Nal, indico, recomendo com entusiasmo, o site do RW, no qual Ricardo e Daison Santana fazem um trabalho admirável de resgate histórico de coisas que foram ‘esquecidas’ ou nunca devidamente valorizadas pela mídia red.

Bem, esta é a minha primeira seleção do ‘melhor Grêmio’.

Aguardo a seleção dos amigos.

Continuo com o assunto no meu próximo artigo. A qualquer dia, qualquer hora, neste mesmo lugar.

Quarentena à brasileira

O presidente, em reunião com seu colegiado, na semana passada, anunciou que estava fazendo o desligamento de um dos principais integrantes da equipe, mesmo contrariando a vontade do Treinador.

Era um processo de fritura que já vinha há meses. Todos sabiam que mais cedo ou mais tarde aconteceria o desfecho agora anunciado. Era inevitável.

Na linguagem do futebol, o profissional a ser afastado era ‘bruxinho’ do Treinador. Os integrantes do alto escalão tentaram dissuadir o presidente, mas sabiam que ele estava determinado a concretizar sua decisão a qualquer custo.

Ao ser informado que seu braço direito, homem de sua total confiança, seria afastado, o Treinador decidiu que abandonaria o trabalho em andamento. Convocou a mídia e anunciou sua saída, aproveitando para atacar o presidente, com quem aparentemente mantinha boa relação.

O presidente, em entrevista coletiva, alegou que o Treinador estava sendo negligente diante de uma série de situações. Exigia que seu subordinado cobrasse do capitão do time medidas mais fortes diante de alguns fatos ocorridos durante a quarentena causada pelo coronavírus, somando-se a problemas da temporada do ano passado.

Na verdade, o presidente, a exemplo de outros que o antecederam, queria ter acesso ao vestiário, insatisfeito com o rumo do trabalho comandado pelo treinador, que, por sua vez, firmou posição contrária.

O Treinador estava fechado com o grupo que o acompanhou numa campanha exitosa e que acabou resultando em sua nomeação como treinador de seleção, atendendo clamor popular. A população via nele uma espécie de salvador da pátria, por sua coragem, competência e postura ética.

Essas qualidades não foram suficientes para mantê-lo na linha de frente da seleção verde-amarela. Faltou-lhe, talvez, mais humildade e tolerância, e sobrou-lhe, sem dúvida, vaidade.

Entre mortos e feridos, quem perde somos todos nós, torcedores e secadores. Mesmo assim, tem gente esfregando as mãos e festejando.

Os dias eram todos iguais

Este seria o título de algo que eu fosse escrever dentro de alguns anos sobre a vida durante a epidemia. Ele resume como me sinto e como estou, perdido nas horas, nos dias, com dificuldade de adaptação a uma vida que escorre pausadamente como areia entre os dedos.

Na semana passada, levei um susto quando me disseram que domingo seria a Páscoa. Ontem, sábado, alguém comentou que terça-feira é feriado. Hoje é domingo, dia de assar uma carne. Mas me passei e comi um risoto (bom demais) feito pela esposa.

Aliás, esses dias de confinamento, de prisão domiciliar sem tornozeleira, serviram para que eu descobrisse, depois de tantos anos, que ela até que é uma pessoa legal. Sério. Posso escrever isso porque ela não costuma ler o blog, rsrsrs.

Na real, eu poderia fazer churrasco todos os dias, se a carne de gado não estivesse custando tão caro. Não tenho nenhum compromisso, além das tarefas diárias como lavar a louça. Poderia tomar uma caipira na hora do almoço, como se domingo fosse.

Outro dia saltei da cama e me vesti às pressas. Colocava o sapato quando minha companheira de cativeiro me perguntou. Vais ao médico? Foi aí que caiu a ficha. Não, eu não ia ao médico. Aliás, ando fugindo deles desde que fiz a cirurgia de ressecção da próstata, dia 26 de novembro (nunca vou esquecer essa data). Não quero que descubram mais nada.

Vesti o abrigo de moleton, meu companheiro mais fiel. Só ando de calça ou bermuda de moletom com camiseta. Poderia doar boa parte das minhas roupas, especialmente as mais formais. Nesse aspecto a vida ficou mais barata, mais simples, como deveria ser e eu me esforço para que seja.

Hoje, meu tempo maior é ocupado em conviver intensamente com meu filho de quatro anos. Cansa? Quem teve filho sabe que cansa, mas sabe também o quanto é gratificante.

Acordo todos os dias em torno de 8 horas, como ele entrando no quarto e chamando os pais sem qualquer cerimônia. Um reizinho. Quer mamadeira, quer desenho na TV ou no celular, e por vai, dando ordens.

Eu e a esposa nos revezamos, mas eu fico a maior parte do tempo com ele. Ela cuida da empresa (@pastadicapri, no instagram). Uma empresa delivery, que vende através do iFood. Comida italiana, especializada em massas e risotos.

Aproveito para fazer esse comercial porque preciso arrumar mais clientes. A crise também nos pegou em cheio. Posso garantir que a comida é muito boa, com preço acessível.

Bem, então eu fico o dia todo às voltas com meu garoto, futuro camisa 10 da seleção brasileira. A escolinha dele está fechada. Eu agora sou a escolinha. Tudo isso para explicar por que fiquei tanto tempo sem escrever. Mais exatamente um mês desde o último artigo, 19 de março.

Sei que poucos perceberam minha ausência. E isso me faz lembrar que de vez em quando alguém pergunta sobre como está o CP. Quer dizer, nem percebeu minha falta. Eu respondo: “Olha, eu saí de lá em 2010, então não sei dizer como está o jornal”. O cara: “Que pena, eu gostava das tuas colunas”, Eu me divirto com essas situações.

Mas tudo isso só pra dizer que os dias, ao menos para mim, têm sido iguais, não muda nada. Não há diferença entre um dia de semana, um feriado ou um domingo. A mesma rotina.

Hoje, escrevo aqui porque consegui conciliar um tempo livre com mais vontade de escrever.

Prometo aparecer mais seguidamente.

Talvez até pra falar de Grêmio, futebol, coronavírus e a Organização Mundial da Saúde, que meteu os pés pelas mãos e se revelou uma entidade mais política do que técnica, ao menos no caso atual. A OMS sai do episódio com sua credibilidade (para dizer o mínimo) tão abalada quanto a de certas empresas de comunicação e certos jornalistas.

Renato, coronavírus e colunismo social na pausa do futebol

Não levo jeito para jornalismo social, mas pelo que tenho visto nos espaços esportivos (leia-se futebol) é o que nos resta. Fora isso, tem notícias ecoantes como ‘Cria do Boca contratado pelo Inter’, a ‘ascensão que o coronavirus interrompeu no Inter’, ‘Pepê pode render uma boa grana ao Grêmio’, “quais as maiores vendas na história do Grêmio’, etc.

Só friagem. Era de se prever. Sem jogos de futebol, nem treinos, há pouco o que fazer para preencher os espaços. Já passei por isso, e posso garantir que muitas vezes bate o desespero.

O editor grita lá do canto: “Duas páginas de Grêmio, uma e meia do Inter”. O repórter, coitado, que se vire.

Tudo culpa desse ‘vírus chinês’, como diz o Trump.

Pois o coronavírus está por trás de um dos assuntos que mais polêmica causaram nesta semana: Renato Portaluppi jogando futevôlei no Leblon. Sempre que ele vai arejar a cabeça à beira-mar aparece alguém para cornetear. Acho que o Grêmio não deve mais contratar treinadores que aproveitam a vida, e tiram dela o que há de melhor.

Renato, com seu jeitão de adolescente enrugado, diz o que pensa, e não raro provoca reações adversas, raivosas até, como neste caso em que ele num dia fala em greve dos jogadores por causa do vírus e no outro aparece feliz da vida batendo uma bolinha no Leblon.

Li e ouvi tantas críticas e adjetivações rançosas que decidi conferir o que ele havia feito, qual crime havia cometido.

Mais grave que isso foi manter André de titular durante tanto tempo, por exemplo. E é esta parte do que Renato faz que me interessa e preocupa.

É óbvio que fosse outro treinador a repercussão seria mínima, mas tudo envolvendo Renato resulta em manchetes e tema para debates, enquetes, etc.

O material não serve nem para o colunismo social e/ou páginas de fofoca na mídia tradicional e na internet.

Se eu fosse fazer esse tipo de jornalismo – não nego que fiz algo parecido algumas vezes no meu passado de repórter – optaria por destacar a matéria em que Renato, com um chapelão pra lá de cafona ou modernoso, aparece ao lado de sua bela filha, Carol, numa piscina de cobertura,com o mar esplendoroso ao fundo.

Por fim, lembro que quando Renato deixou o Grêmio por 600 mil moedas, em quatro parcelas que o Flamengo sempre atrasou, eu disse:

O Grêmio perde seu craque maior e, nós, da imprensa, perdemos nossa maior fonte de notícias.

Não mudou nada. A diferença é que ele permanece no Grêmio, embora muita gente gostaria de derrubá-lo, a exemplo do que acontece com um outro cara que, como Renato, fala muito.

Grêmio vira jogo antes da pausa no Gauchão

O técnico Renato Portaluppi atendeu o clamor de uma parcela – minoritária mas atuante e insistente – da torcida, e escalou o time com Éverton, por óbvio, e Pepê, mantendo um centroavante, no caso Luciano.

Com isso, ficou um clarão no meio de campo -pelo menos uns dois ou três hectares que poderiam ser destinados ao plantio de alfafa, soja ou mandioca.

Com essa seca que assola o Estado, o São Luiz, sabiamente, preferiu aproveitar o espaço farto para fazer dois gols em menos de 20 minutos

Michel, o centroavante do time, marcou o primeiro, e já tem mais gols no Grêmio que o festejado Guerrero, ídolo escarlate, em grenais.

Não sei se o Renato queria mostrar para os seus corneteiros que começar um jogo, contra quem quer seja, com dois pontas que pouco marcam, é no mínimo temerário. Por isso, joga Alisson.

Pepê é superior ao Alisson, mas Alisson cumpre uma função tática importante no esquema do treinador. Portanto, Pepê continua sendo um trunfo de valor inestimável.

Bem, não adianta repetir isso, porque cada treinador de arquibancada e/ou de sofá sempre sabe mais que o treinador de campo, ainda mais se for um ‘treinador de rachão’ como afirmam os mais agressivos, que talvez nem gremistas sejam,mas sim colorados que sonham em torcer para o clube gaúcho de maior projeção mundial.

O ‘entregador de camisetas’, resolveu a questão do vazio agrário colocando Jean Pyerre no lugar de Orejuela, que a continuar assim é forte candidato a atuar como gandula pela direita.

Jean, que é lento na marcação e na luta pela bola, é craque com ela nos pés. Thaciano fechou a porteira do lado direito e ajudou a compor o meio com Matheus Henrique.

Fora isso, o time passou a jogar mais compenetrado. As chances de gol foram surgindo e desperdiçadas.

Éverton pifou companheiros umas quatro ou cinco vezes. Ele próprio perdeu um gol imperdível.

Mas a virada acabou acontecendo, como era de se esperar. Foi justa a vitória por 3 a 2, placar que poderia ser bem maior. Gols de Paulo Miranda, Thiago Neves (seu primeiro no clube) e Diego Souza.

Agora, uma pausa em função do vírus que assusta planeta.

Ah, muito boa a ação de marketing do clube. Repercussão mundial.