O texto abaixo foi publicado há alguns anos aqui no blog. Em sua coluna na Zero Hora, edição desta sexta-feira, o colunista mais lido do Estado faz considerações sobre o artigo e também sobre minha pessoa, o que muito me orgulha e emociona.
Aqui o texto publicado há mais de seis anos e que já correu o mundo:
A arte de saborear e identificar um bom sagu
É preciso uma certa técnica em tudo na vida. É preciso arte, um tanto de requinte até para as coisas mais prosaicas, mais simples.
Até para comer sagu é necessário, fundamental, uma certa sutileza, apreço a detalhes que normalmente dispenso para qualquer outro tipo de alimento, salgado ou doce.
É que o sagu é a minha sobremesa preferida. Cheguei a essa conclusão depois de meio século de vida. Passei por outras preferências. Arroz de leite e pudim de leite condensado são dois exemplos. Já estiveram no topo. Hoje, é o sagu. Com creme de baunilha, claro.
O creme precisa ser… cremoso. Nem muito consistente, nem muito líquido.
O problema é que o sagu virou uma obsessão. Entro no restaurante e vou direto ver se tem sagu. Quase todos o tem. A maioria, porém, é desprezível.
Só pela cor já percebo que o sagu é ruim.
O sagu bom tem cor escura, cor de vinho tinto, forte. Aquele de garrafão. Já vi até sagu de refresco de uva. Um acinte, uma agressão.
Depois de avaliar a cor, analiso a consistência. A parte líquida deve ser cremosa e as bolinhas firmes, mas macias, e não muito grandes. O sagu deve, obrigatoriamente, exalar um aroma de vinho tinto, com notas sutis de canela e cravo. Caso contrário, me afasto.
Um sagu bom é também sinalizador de um bufê de sobremesa de qualidade, o que é válido inclusive para o bufê de saladas e de pratos quentes.
Quem fizer o teste verá que tenho razão. Sagu bom é sinal de refeição saborosa.
Para saborear devidamente essa iguaria que passou no teste visual e de olfato, é preciso saber servir-se de modo adequado.
Eu ensino: pegue a taça, de preferência aquela de metal (normalmente meio amassadinha), coloque sagu até quase em cima. Depois, duas colheres de creme bem no meio. Eu costumo afastar aquela película mais sólida que se forma na superfície do creme. Se não der, vai assim mesmo.
Agora vem o momento especial, o ápice, é como o atacante na cara do gol. É preciso jeitinho, uma técnica apurada para degustar o manjar que está à frente, indefeso como um goleiro diante do goleador. Nesse momento eu sou o goleador, o matador.
É imperdoável misturar o sagu com o creme.
Mergulhe a colher no sagu e depois no creme, nesta ordem. Mas ambos ficam na mesma taça. O creme, valoroso coadjuvante, não pode ocupar mais do que 30% da colher. Eu costumo ficar nos 20, 25 por cento.
Bem, aí chegou a hora de avaliar o sabor. Normalmente, seguindo os passos referidos, não haverá decepção.
Se tudo der certo, é só mandar ver e ir pra galera.
DICA
O melhor sagu de Porto Alegre – pode haver igual, mas não superior – encontra-se no restaurante Romana Becker, preparado pelo meu amigo Astor, que recebe todos de braços abertos, sempre com um sorriso no rosto.
Vale a pena conferir. Endereço: Marcelo Gama esquina Américo Vespúcio. Restaurante familiar, com uns 50 anos de existência. Mais detalhes no google.