Existem algumas atitudes que a gente comemora quase como um título, e até mais que um título se for de uma competição menor, como o regional noveletiano.
Atitudes que marcam, que nos fazem vibrar, que nos deixam orgulhosos e que acabam se alojando num cantinho aconchegante da memória do torcedor gremista.
Um exemplo, e dos mais ecoantes, é o que aconteceu antes do Gre-Nal de domingo no BR. Não, não me refiro ao torcedor que chamou uma jovem repórter de ‘puta’ e depois a agrediu fisicamente; menos ainda à imagem patética de um torcedor colorado fazendo gestos obscenos para um grupo de meninas gremistas.
Fico imaginando como ele e as pessoas próximas se sentem vendo essa cena ridícula, grosseira e sem noção.
Intrigante é que os dois ‘torcedores’ ainda não foram localizados para responder por seus atos. A imprensa que foi ágil para localizar a guria gremistas, aquela do racismo, agora se move a passos de paquiderme, assim como a direção do clube.
Mas o caso que deixou minha alma lavada e enxaguada é o duelo Maicon x D’Alessandre. Muito orgulho do capitão tricolor (tem ainda uns que estão no mobral do futebol que ainda o questionam).
Maicon desestabilizou o inquieto argentino com uma frase cortante e venenosa, depois de ser informado pelo Jean Pierre que haveria mais dois árbitros no jogo.
Bola picando para alguém sagaz e/ou bem instruído pelo Renato.
-Quer dizer então que hoje o D’Alessandro não vai apitar…
Foi mais ou menos isso. O galinho ficou enfezado, queria briga. Os baixinhos sempre querem briga com os mais altos, é impressionante.
Bem, D’Alessandro não apitou. Deu certo. E mais, fez um primeiro tempo horroroso, que contribuiu para a superioridade tranquila do Grêmio. Eu contei, foram uns oito passes errados, o que é muito para quem precisa articular, propor o jogo.
Engraçado, ninguém da mídia fala sobre essa atuação medíocre do D’Alessandro, que, diga-se, no segundo tempo até melhorou.
O ódio vermelho caiu apenas sobre um jogador, o Dudu. Ninguém questiona também por que deixaram o pobre guri sozinho. O que fez o técnico colorado para reforçar a marcação naquele lado, onde o Grêmio deitava e rolava? Nada. Foi um chocolate, ou um vareio como se diz lá em Lajeado, município da Grande Cruzeiro do Sul.
Então, boa parte da vitória e principalmente do primeiro tempo fantástico do Grêmio no BR lotado de colorados assustados eu atribuo ao Maicon, que também em campo foi superior, altivo, técnico e durão quando necessário.
O lance do Maicon com o argentino, na frente dos árbitros noveletianos, entra na minha galeria dos grandes momentos do futebol dentro e fora de campo, como o ‘Sascha Cuzão’, o sssshhhhhh-um minutos de silêncio, o Alan Ruiz contra o ‘idolo’ dos 400 jogos -número devidamente carimbado pelos 2 a 1 de domingo – e muitos outros que não lembro agora, mas que, com certeza, me fizeram muito feliz.
ROMILDO E O DOSSIÊ
Outro momento grandioso foi a iniciativa da direção do Grêmio em elaborar um dossiê sobre o primeiro jogo contra o Lanus, quando o time argentino foi beneficiado de forma absurda.
O presidente Romildo Bolzan e sua equipe juntaram imagens do jogo e o fato de ter um juiz argentino presidindo a arbitragem, contrariando o regulamento. O documento foi encaminhado à Conmebol e, importantíssimo, aos patrocinadores, os caras do dinheiro. Ideia Sensacional.
O Grêmio começou a vencer o Lanus com essa jogada de craque, que não aparece nas vinhetas, mas que merece ser elogiada e destacada.
Essa indignação – vista nos anos 90 na ‘guerra’ de Koff/Cacalo/Felipão contra a Parmalat – estava faltando. Pelo jeito, não falta mais.
Títulos também são conquistados assim, com ações inteligentes, fortes e destemidas.