Recuperado das fortes emoções causadas pelo grande jogo desta quinta-feira na Arena, tratei de rever na internet os principais lances de Grêmio x Independiente, briga de cachorro grande, não de guaipecas que lutam por um osso no campeonato do sr. Novelletto.
A principal conclusão: o Grêmio deveria ter goleado. O goleiro argentino foi um gigante, não apenas com grandes defesas, mas também na arte de ganhar tempo, contando para isso com o beneplácito do árbitro.
Não há como negar que a afoiteza e a imperícia nas conclusões também contribuíram para o meu sofrimento e minha irritação. Aponto dois lances: logo de saída Éverton fez o mais difícil, driblou o goleiro e chutou já comemorando. Aí apareceu um zagueiro para impedir o gol.
Éverton, o destaque
Eu estava próximo desse lance e reparei a cara de espanto e frustração do Éverton, que, aliás, foi o melhor jogador em campo. Foi o atacante que mais deu trabalho à marcação implacável do forte time argentino, que, mesmo com um a menos foi valente, resistiu e até deu dois sustos.
Éverton tem uma jogada que normalmente dá certo, ele corta para o meio e chuta de direita, mas sempre no canto direito do goleiro, sempre. Foram quatro ou cinco conclusões dele dessa forma. Ele precisa aprender a buscar o canto esquerdo(o canto oposto). O que se consegue com bastante treinamento.
Luan
Luan, como se previa, foi o alvo preferido das chuteiras assassinas de craques. Dois argentinos levaram cartão amarelo por entradas mais duras. Outro, foi expulso justamente, porque ele quase operou Luan com uma entrada criminosa. Foi preciso a intervenção do árbitro de vídeo.
Sobre os gols perdidos: ainda no primeiro tempo, aos 38, bem na minha frente, Luan perdeu uma chance incrível, após passe se não me engano do Alisson. No lance anterior, em que Éverton driblou o goleiro, a metida foi também de Alisson, que começa a mostrar qualidades.
Irritação
Quanto mais chances o Grêmio desperdiçava, mais eu me irritava. Um pensamento martelava minha cabeça: quem não faz, leva. É importante registrar que o time de Renato foi guerreiro, altivo, peleador e teve vários momentos de bom futebol. Seria um crime um time que criou tantas chances de gol ser eliminado, mas o risco havia. Meus olhos cansados já viram muito disso no futebol. Por isso, o medo, a irritação.
Quando o jogo foi para a prorrogação quase entrei em pânico. Lembranças de ‘tragédias’ dos anos 70, principalmente, me atormentavam. Sou um sequelado emocional em termos de futebol, um sobrevivente dos anos de chumbo para os gremistas, a década de 70.
Marcelo Grohe
Terminada a prorrogação, me levantei. Pensei no trânsito para a volta e também no histórico assustador de pênaltis mal batidos. Sim, fui embora.
Depois de uma caminhada de 15 minutos, entro no carro, ligo o rádio. Luan vai cobrar, 4 a 4. Eu tinha certeza de que ele erraria. Mas ele fez. Acendeu a luz da esperança.
Aí, apareceu o goleiraço Marcelo Grohe, que uns definiam como goleiro com braço de motorista de kombi e outras coisas piores, todas muito injustas e cruéis, ainda mais partindo de gremistas.
Grohe defendeu o quinto pênalti. Grêmio campeão da Recopa. Grohe,Geromel e Kannemann formam um trio defensivo insuperável no futebol brasileiro. Os dois zagueiros foram excepcionais na entrega, na energia e na indignação.
Renato
O maior responsável por mais esse título grandioso – o terceiro em 18 meses – é sem dúvida o técnico Renato Portaluppi, claro que com o respaldo do presidente Romildo Bolzan.
Além de conhecedor de futebol, Renato tem a capacidade de conquistar o vestiário. Coisa rara. Ele consegue trazer o grupo para o seu lado. Isso é perceptível em campo. Até jogadores que chegaram agora se envolvem e comprar a proposta de trabalho de Renato.
Ao final do jogo, era visível a emoção dos jogadores. Maicosuel não conteve o choro quando o jogo terminou, mostrando que já incorporou a alma tricolor.
Mérito de Renato Portaluppi, o melhor treinador em atividade hoje no futebol brasileiro.
Se alguém quiser saber como é a relação dele com os atletas basta conferir alguns vídeos que circulam nas redes sociais. É uma relação de companheirismo e amizade, além de total comprometimento.
E isso tudo, acreditem, ganha jogo, mais até que erudição futebolística.