A classificação veio com sofrimento, mas veio. E isso é o que importa.
O Grêmio fez uma excelente partida. Calma, em comparação com o que já jogou desde a Copa do Brasil do ano passado, a atuação foi por momentos horrorosa. Mas em termos de Libertadores, uma competição que premia muitas vezes o time mais competitivo, mais aplicado e mais esperto, a atuação no segundo tempo foi muito boa, alentadora, compensando o que aconteceu nos primeiros 45 minutos.
O Grêmio jogou como se deve jogar uma Libertadores, onde muitas vezes vale mais a força, a dedicação, o empenho e a gana de brigar por cada bola. E quando fez o seu gol, o time de Renato deu aula de como truncar e picotar um jogo.
Está certo, cada escanteio para o Botafogo era como um filme de terror, tipo o massacre da serra elétrica, ou algo do gênero. Mas aí o sistema defensivo como um todo – o primeiro tempo foi assustador – funcionou de maneira exemplar. Até o Grohe chegou a sair fora da pequena área para afastar uma bola pelo alto.
Enfim, depois do gol, o Grêmio foi um time argentino. É o melhor elogio que posso fazer ao desempenho do time que vencia por 1 a 0 e não podia sofrer o empate de jeito algum.
Eu poderia escrever um pouco mais sobre o primeiro tempo, mas é duro relembrar coisas ruins do passado. O primeiro tempo foi de apagar da memória, porque foi tenebroso. Até Geromel e Kannemann ficaram atordoados, errando e cometendo faltas desnecessárias e perigosas.
Se o primeiro tempo foi do Jair, o segundo foi do Renato. Quando os dois times foram para o intervalo pensei com meus botões – meus melhores confidentes, porque não questionam nada – que chegara o momento de Renato provar de uma vez por todas que é o melhor treinador do futebol brasileiro atualmente.
Ou ele muda o modo de jogar do time, ou perde e irá arder no fogo do inferno de seus críticos, hoje menos verborrágicos, mas sempre à espreita para gritar: “Eu não disse?”.
Pois Renato encurralou o Botafogo. Não foi aquele futebol bonito de meses atrás, mas foi o futebol necessário para o que a situação exigia. Um futebol de muita garra, aquele em que não há bola perdida nem disputa frouxa como se viu em alguns lances do primeiro tempo.
Para completar, registro um erro de Renato, que escalou Léo Moura quando deveria ter começado com Éverton. Equívoco que Renato corrigiu a tempo, o que contribuiu para uma melhor atuação do time no segundo tempo.
Quero destacar mais uma vez o Fernandinho. Foi o atacante mais perigoso de novo, infernizou a defesa dos cariocas. O gol de Lucas Barrios, que a SporTV está tentando anular repetindo o lance trocentas vezes, saiu de uma falta sofrida por ele, o Fernandinho.
Aos que só enxergam defeitos no Fernandinho, jogador que eu já critiquei muito, pergunto: qual atacante do Botafogo fez perto do que fez Fernandinho? Insisto nisso porque não gosto de injustiça e de gente que morre abraçado com suas teses, mesmo que os fatos apontem diferente. Um pouco de humildade para admitir erros é sempre saudável.
No mais, destaco apenas o coletivo do Grêmio, porque individualmente as atuações ficaram na média 7. Um primeiro tempo sofrível, que me fez prever um desastre, e um segundo tempo alentador, estimulante, que me faz acreditar que o título da Libertadores é mesmo possível, mas desde que Luan esteja apto a jogar com a plenitude de sua forma.
O próximo jogo é contra o Barcelona do Equador, que eliminou o Santos na Vila. Fico pensando se isso acontece com o Grêmio, como seria? Eliminado por um time equatoriano dentro de casa. Cruel.
Entre Santos e Barcelona, eu preferia o time equatoriano. Até porque a altitude de Guayaquil é tolerável, 2,5 mil metros. ERRATA: é ao nível do mar.